A PRAÇA E AS SENHORINHAS
Ouvi o termo senhorinhas há algum tempo atrás, e ""cuidadora" também. Adoro a língua portuguesa-de cinco em cinco minutos nasce um termo. Não sei se o senhorinha é para se parecer mais gentil com os idosos,mais -politicamente correto -deve ser, deve ser.Com essas considerações, vou para a praça para meu cooper; as vezes vou para ler, às vezes, para ver a vida. No final da tarde, quando o sol vai se esgueirando pelas frestas, elas chegam. Não em bandos alegres de maritacas, uma primeiro , depois duas ou tres, alguma acompanhada das ""cuidadoras". São as idosas que se reúnem para "prosear", como elas dizem-algumas fazem crochê e os pontinhos desabam sobre o colo em vários formatos e cores. Também eu, quando as vejo, paro para cumprimentá-las, e aí hoje não trouxe o cachorrinho, não hoje não, meu filho o levou embora, ouço suas considerações sobre a novela de sucesso onde as personagens gritam histericamente, o casamento de fulana, meio passada não é me olha com malícia, não vai casar, voce também, ainda é moça, comentários sobre as empregadas, a comida tão cara, o arroz de forno, o que se separou e casou com a amiga da filha, que vergonha, ué, burro velho pasto novo e todas riem, menos uma, tem o olhar no nada , vez em quando aponta alguém que passa, é Alzheimer querida, a senhora sentada na ponta do segundo banco me olha com atenção - tem olhos da cor de piscina sem cloro, não se preocupe ela está bem. Minha comiseração faz com que se levante, bate em meu ombro com delicadeza as mãos pequenas são frias: -Na vida, minha filha, nós lutamos, sofremos e nos alegramos, nos entristecemos e aguardamos -o processo da lida -A existência é um dom maravilhoso, mas emprestado, não acha? Não sabemos o porque de certos fatos acontecerem, não temos aparelhagem mental suficiente para entender as coisas do Divino, temos? Podemos, no entanto, penso eu, e me segura a mão com mais força, lutar, aguardar, orar se quiser, amar e ..ter fé, sorri com simpatia. Abraço-a com força e me vou. Viver.