Rebeca estava bastante nervosa quando chegou à minha casa. Como sempre me considerou sua amiga-irmã, era comigo e somente comigo que poderia desabafar o coração.
- Débora, estou vivendo um drama inusitado e não sei como conviver com a angústia que ele me traz. Imagine você que minha filha, Celinha, vem, há anos, tentando ter um filho. Já fizeram todos os exames e o médico cons-tatou que realmente ela tem um problema sério e não poderá engravidar. Ela me perguntou se eu seria capaz de fazer uma inseminação artificial para ela poder ter esse tão esperado bebê.
Já estou com 49 anos e sei que uma gravidez nessa idade já tem um certo risco, mas não pude dizer não à minha filha.
A inseminação é cara e meu genro, sem que Celinha soubesse, me propôs que fizéssemos sexo da maneira convencional e que não disséssemos nada a ela para evitar constrangimento e um gasto desnecessário, já que as finanças dele estavam péssimas com todo aquele gasto com tentativas frustrantes.
Combinamos de ir a um motel bem longe de casa e assim foi feito. Ele me fez muito carinho para que eu relaxasse e pudéssemos ter um bom resultado. Acontece que quanto mais ele me acariciava, mas excitados íamos ficando. Por fim chegamos a um orgasmo como eu jamais havia tido e, pelo que ele me disse, nem ele.
Conseguimos o nosso objetivo e estou grávida do meu filho-neto.
Estou me sentindo péssima e creio que o mesmo ocorre com ele. A cada vez que nos cruzamos e nossos olhos se encontram ficamos vermelhos, desviamos o olhar, mas sinto que o meu coração dispara. Não posso nem imaginar como minha filha reagiria se tivesse a mais mínima idéia dessa situação.
Ontem, depois que acabamos de jantar, minha filha foi se deitar com dor de cabeça e ele disse que me ajudaria a arrumar a cozinha.
Nos movíamos na cozinha, que é pequena, e ele a todo momento esbarrava em mim. O meu sangue ferve a cada contato e ele se descontrola, talvez sentindo o mesmo que eu sinto e com a consciência pesada.
Estou sem condições se me separar deles porque são eles que vivem na minha casa e não o contrário. Não posso abandonar a minha filha e está difícil me imaginar longe dele. Estou sendo alimentada por esses momentos fortuitos e vejo que não vamos agüentar por muito tempo. Ele me olha de um jeito que eu me sinto despida.
Fui ao médico e ele me disse que está tudo bem comigo e com os bebês. Com os bebês? lhe perguntei. Sim - me respondeu ele - são gêmeos.
Meu genro e minha filha andam brigando ultimamente por qualquer motivo. Acho que ele está infeliz, eu estou triste por não poder controlar essa atração e minha filha ansiosa com a chegada dos bebês.
Meu genro me propôs que tivéssemos um triângulo amoroso. Celinha não sofreria, ele ficaria feliz de continuar aqueles carinhos que nos fizeram tão bem e todos sairiam ganhando. Essa proposta me pareceu indecente, mas muito atraente.
Não estou lhe pedindo conselhos. Sei que é difícil a gente dar um conselho, principalmente numa situação tão delicada. Eu estou muito dividida e estou inclinada a aceitar a proposta dele até a gravidez começar a me incomodar. Depois que os bebês nascerem vou pedir transferência lá na repartição e vou para o lugar mais longe que me propuserem.
Rebeca, isso não vai adiantar. Seu genro, que também é meu amigo de infância, me procurou e me disse que está desesperado com essa situação. Disse que ama a esposa, mas deseja você que foi a única mulher que o fez, realmente, se sentir um homem com H maiúsculo. Tenho a impressão de que, se você não aceitar a proposta dele, você pode estar cavando a separação da sua filha. Isso seria muito triste porque eles sempre desejaram ter um filho e agora, com dois, vai ser muito melhor que eles vivam juntos para criarem esses novos seres que você ajudou a vir ao mundo.
Vá para casa, ponha a cabeça no travesseiro e veja que a resolução desse problema está em suas mãos.
Muitas vezes é melhor ser feliz do que ser politicamente correta.

 
edina bravo
Enviado por edina bravo em 25/10/2012
Reeditado em 05/02/2014
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