Helena

Atrevida como ela só, peralta, aquela menina esguia, de andar tão delicado, seu rosto ela longilíneo, com um queixo um pouco proeminente, sobrancelhas finas, negras, brilhantes, parecia que ela passava verniz, seu corpo era de uma leveza que ao menor dos ventos ela poderia se desequilibrar. Vivia de bem com a vida, sempre lúcida, esperta, resposta pronta e cortante, não era mal educada, direta sim e com muito bom humor, sua beleza constrangia, ainda mais com aqueles vestidos brancos, bordados com flores delicadas, de alcinha, uma maravilha de se ver, apreciar. Em suas espirituosas tiradas, constrangia mais pelo olhar, e que olhar..., direto e fulminante, com seu nariz afilado, que mais parecia uma mira a apontar para o seu próximo alvo. Era assim Helena, menina moça que arrasava corações. Dava atenção a todos, sem distinção: novo, velho, feio, bonito, homem, mulher, criança e até aos animais, gatos, cachorros, seus prediletos. Se a beleza constrangia e seu olhar também, precisava ver o sorriso, aquela carreira de pérolas, emoldurada por lábios perfeitos, meios grossos, que ela insistia em umedecer com o passar da língua sobre eles. Ai meu Deus, que menina bem feita. Um belo dia Helena, como sempre fazia às quartas de manhã, saiu para ir à feira ao ar livre, buscar frutas frescas, que ela tanto amava. Sacola de pano colorida, enrolada na mão esquerda, sempre na mão esquerda, passava em frente às casas, à praça, parecia desfilar, sob o olhar daqueles que, sem ter o que fazer, ansiosamente se postavam ali, naqueles locais estratégicos, para ver Helena, a menina moça. Ninguém tinha coragem de fazer um gracejo mais indelicado, não passava de um: - Oi moça bonita, bom dia! Ou: - Oi Helena vai comprar frutas? No que ela se virava para o seu interlocutor, quase sempre do sexo masculino, tascava-lhe aquele olhar fatal, mas sem malícia, e respondia: -