O MILAGRE
Daniel e Maria Flor são casados a mais de dois anos. Amam-se e se querem bem. Ele era um rapaz criado na doutrina da igreja Católica e ela evangélica da Assembleia de Deus, uma mulher pentecostal e firme na fé. Já o marido um novo convertido.
Maria Flor é professora infantil e trabalha nos dois turnos enquanto Daniel esta sem emprego e fica cuidando da casa e do enteado de doze anos.
Ainda faltavam dezoito dias para o fim do mês e a situação na casa estava difícil. A despensa completamente vazia e as contas de água e luz acumulavam. A tensão na casa parecia explodir a qualquer momento. Maria Flor ficava sempre em silêncio e quando estava no quarto se ajoelhava e prostrava o rosto na cama e orava para que Deus fizesse um milagre naquela semana.
Era quinta feira dia dezoito de outubro, Maria Flor estava fazendo aniversário e teria uma homenagem na escolinha feita pelas colegas e direção, Daniel e Jonas, o filho dela, estavam tristes, pois não tinham nada para comprar um presente para Flor. Ela diante da porta se despedia do marido para ir ao trabalho bem cedo. Eles se olhavam e nada diziam um ao outro, ele deu um sorriso tímido e ela um beijo seco nos lábios. Ele nem sequer lhe deu os parabéns.
Ao entrar na sala Daniel sentou-se e olhou a mesa e viu que não tinha mais pão, nem biscoito apenas o café na garrafa térmica da noite seguinte. E agora esperava a chegada da esposa que iria pedir um vale ao patrão, mas imaginava tudo isso.
Daniel levantou-se e foi até a peça que fica na sala e abriu a gaveta do canto, olhou um cartão meio lascado do banco onde Maria Flor tem uma conta poupança e deixou de usar por quase seis meses. Daniel pensou em ir ao bairro onde sua mãe mora e pedir uns dez reais emprestado a um conhecido que tem uma barraca na feira. Colocou o cartão na carteira vazia, vestiu uma camisa e foi andando para o bairro, deixou Jonas dormindo e com o pensamento positivo foi caminhando. Era quase uma hora de caminhada até chegar ao Bairro São Caetano.
Chegando à entrada do bairro ele foi ao mercado onde tem um caixa eletrônico. Passou o cartão, deu certo, não houve erro; teclou a senha numérica e depois a alfabética e depois o botão de saldo, pelo jeito tudo estava indo bem, mas seu coração estava tranquilo e imaginando ir à feira. Não pensou em nada apenas em esperar o papel do saldo.
Quando o papel saiu, Daniel observou o saldo e a surpresa, estava alí um valor que jamais poderia imaginar: seiscentos e vinte reais. Ele não estava acreditando naquilo, olhou por duas vezes o valor, saldo: seiscentos e vinte reais. De onde saiu aquele valor, pensou. Naquele momento seria a última coisa que ele queria saber, pois o cartão novamente e sacou todo o dinheiro.
Para ele foi sorte, para ele seria algo que não tem explicação, mas Maria Flor, quando chegou do trabalho para almoçar e recebeu a notícia e as notas de vinte reais em suas mãos trêmulas, ela apenas afirmou com todo a sua fé: milagre. Jesus Cristo depositou o dinheiro, milagre.