Janela da Babilônia

Parei o carro numa das vagas do prédio. De tarde sempre tem vaga coberta na Babilônia. O telefone tocou, era a Marcinha. Pois é, mulher, cheguei agora em casa, ainda nem subi. Ah, você nem sabe… eu e o Ronaldo não estamos nada bem. Ele sempre enche a cara quando nós saímos e já estou de saco cheio disso… no dia anterior do seu aniversário ele não quis sair e de noite o telefone estava no silencioso, segundo ele, e não consegui comunicá-lo – daí passei a desconfiar…

Um carro parou na vaga vizinha e desceu um cara grande com sacolas de supermercado. Observei aquele vai-e-vem quase frenético… parecia que tinha comprado quase todo o mercantil. Gosto de conversar com a Marcinha, mas ela é que nem eu… fala pelos cotovelos e, enquanto ela opinava sobre o Ronaldo, observei o cara do carro ao lado: achei que conhecia de algum lugar… deve ser impressão.

Essa semana o Ronaldo estava aqui em casa e aproveitei que estava no banho pra fuçar o seu celular. Parece uma donzela no banheiro e foi ótimo que tive tempo suficiente para ver a lista telefônica, as chamadas e as mensagens. Não encontrei muita coisa, amiga, mas vi umas mensagens em que uma mulher dizia que tinha “amado” o jantar e que ele respondeu que “também”. Segurei a peteca e não briguei na hora, mas no outro dia…

O cara do carro ao lado, não satisfeito de ir e voltar com seu mercantil “anual”, tirou uma fruteira do carro com cara de que foi comprada numa Casas Freitas da vida…

Nem deixei o Ronaldo subir e, desde o estacionamento, já fui atiçando… como foi o jantar? Soube que você tinha gostado… ele, bruto como sempre, jogou um monte de coisas na minha cara… que eu nunca quis noivar com o argumento de “dar azar”… é, eu disse vááárias vezes isso, hehehe… disse que eu nunca vou procurar apartamento pra comprar… que não tô nem aí para as datas comemorativas. Nããã… ele parece uma borboleta acuada por falta de romantismo meu. Não gosto de conto de fadas, romance angelical… prefiro algo mais caliente: cheiro, pele, suor… corpos, um só corpo…

Ufa! O cara do carro ao lado parece que não vai voltar pra pegar mais nada… ainda bem… já estava cansando da cara dele – se bem que poderia ser-me beeem útil numa puladinha de cerca… grandão, nooooooossa, já pensei um monte de estripulias e estou, amiga, úmida, hahaha… é, é verdade: aqui é uma Babilônia!

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Escrito em 02 de maio de 2011.