A MOÇA E O CAMINHONEIRO

Não dormia -era depressão, diziam. Não suportava as amigas, faziam compras em Miami, iam a concertos e falavam o tempo todo, sua fortuna a incomodava, faça mesoterapia, é um escandalo de bom, tente um guru , mora na zona leste, tem feito milagres, vai para o sitio, quem sabe perto da natureza. O automóvel tosse e para ( vem vindo um caminhão e se for um lunático) pensa na mãe, prepotente e arrogante, um pai olhar de cão molhado, uma fortuna que não lhe trouxe paz, pião girando, girando -lugar nenhum. Suba, eu lhe levo até o seu sítio,é tranquilo e sua voz é compassada, nariz meio adunco, sim, virou caminhoneiro, largou tudo, quer ser livre, para ver as chapadas, as estrelas , a paciência da capivara, os olhos verdes da onça, crianças pobres do sertão, faz o que pode por elas, as cidades,conta, são como desenhos infantis, uma casinha, uma porta, uma janela, às vezes uma cerca com flores, sol escancarado, mil pernas olhando a vida.. Ela se encanta com a conversa, olha o gado que come o capim sem pressa e os quero-quero que se equilibram nas estacas com ar maroto, num flash, um raio, o coração pula descompassado, me leva com você moço, me leva,tô cansada dessa vida de pião rodando sem parar, tenho dinheiro suficiente, quero um projeto para minha vida, coisa pé no chão, você entende, entende, ela a olha com admiração e seguem pelo Brasil adentro. Está feliz. Criou uma comunidade no fim do sertão, , bem pra lá do fim do mundo, como quer a canção. Vez em quando Conrado, o caminhoneiro, traz mantimentos, equipamentos,semente, remédios. As crianças e ela correm ao seu encontro. Ele a abraça com força, ela é feliz. Muito.

Vosmecê
Enviado por Vosmecê em 23/10/2012
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