SONO
Toca o telefone do apartamento de cima. Duas e meia da madrugada. A campainha nervosa e estridente de quem chama no meio da noite.
O que terá acontecido? Será que aquele irmão dela, que sempre se mete em confusão, foi preso? Está no hospital? Será que aconteceu alguma coisa lá pelo Iraque, onde o pai dela trabalha para uma construtora brasileira? Será que a mãe dela já chegou e está ligando do aeroporto? Será que alguém da família dela morreu? Será o namorado arrependido do escândalo que deu ontem na porta do prédio?
Alguém ligou para o número errado.
Ela puxou com raiva o fio do telefone e decidiu: deixaria mudo a partir de dez da noite, todo dia.
Quem tivesse algo importante que chamasse antes ou depois do sono dela.