É PRECISO ACENDER A LUZ
Guida LinharesHá histórias que a imaginação de quem escreve cria e há histórias reais, de vivências e experiências que servem de exemplo a muita gente, desacreditada da bondade divina.
O voluntariado num hospital nos permite conhecer muitas histórias, quando ouvimos o paciente em suas queixas e o que é mais gratificante, a nossa escuta permite que eles contem suas passagens mais significativas.
Estava passando no corredor, quando vi uma senhorinha toda de cor-de-rosa, que me acenou alegremente. Depois de entregar uns exames, voltei à ala e fui visitá-la. Já deitada ela me recebeu com um sorriso no rosto e olhos brilhantes.
Seu semblante me pareceu muito bem e percebi que ela trazia nas mãos uma pequena Bíblia. Antes que eu perguntasse algo, ela me disse:
- "Que bom que você é voluntária e como eu também já fui, sei o quanto é valioso este trabalho, aliás foi o que me salvou da depressão profunda, quando perdi meu filho, tendo apenas uma filha e sem mais nenhuma família por perto.
Fiquei arrasada, mas não me revoltei contra Deus, pedindo a ele que me iluminasse, que me permitisse o bálsamo da compreensão de que meu filho havia cumprido a missão dele e partira.
Então um dia com o coração em lágrimas, resolvi me arrumar e sair. Era uma tarde de sol e morava perto de um hospital que atendia pessoas muito carentes. Havia sido auxiliar de enfermagem quando solteira, e então resolvi oferecer meus serviços voluntariamente.
Lá conheci uma pessoa que me levou a uma outra instituição que atendia crianças vítimas de maus tratos e então conheci quem veio a ser a minha filha adotiva. Uma menina de 7 anos extremamente arredia, cuja família a maltratava e fora retirada pelo Conselho Tutelar. A princípio ela nem falava, só murmurava, mas aos poucos aquela menina foi conquistando o meu coração. Veio a tutela provisória, e depois a definitiva, e nesta fase os seus pais já haviam falecido, consumidos pelas drogas pesadas.
Hoje ela esta com 19 anos e se tornou a menina dos meus olhos. Ela e minha filha sempre se deram muito bem. Deus sabe o que faz e sou muito agradecida a Ele.
Há tempos atrás o SUS me chamou para internação e exames do coração, pois sou hipertensa e tenho arritmia. Mas para não deixá-la sozinha, pois a filha estava em Londres, eu deixei de vir. Contudo agora minha filha veio, pude me internar e aqui estou para o que der e vier, mas feliz demais por ter ajudado uma criança a ser alguém na vida. Como seria a vida dela se eu não a tivesse conhecido? Ela faz faculdade e tenho certeza de que meu filho deve estar abençoando o meu gesto de amor.
Não imaginei como seria o filho dela, mas um acelerar do meu coração e uma energia pulsante me atravessou e acredito que ele estivesse ali presente.
Toquei em suas mãos, e disse a ela que estava certíssima e que Deus a havia abençoado e com certeza ela dali sairia em breve, pois ainda possuia muita missão a cumprir."
Quando li o tema "É preciso acender a luz", imediatamente me lembrei do relato e fiquei imaginando se a paciente enlutada, se tivesse deixado ficar na escuridão, chorando pelos cantos, diminuindo suas forças, desacreditando de Deus.
Talvez o clamor do primeiro mandamento cristão, tenha sido ouvido pela consciência e então ela foi à luta, tirando o olhar da própria dor e indo cuidar da dor alheia, e através deste gesto de generosidade, encontrou algo muito precioso: uma criança carente de tudo, que pode ter direito a uma vida mais digna, e que trouxe a ela uma renovação, um novo estímulo, um sentido a mais em seu existir.
A luz acendeu-se de ambos os lados, para a menina sem ninguém e para a mãe que perdera seu filho. Bendita seja, a Luz que vem de Deus!
Santos/SP/Brasil
19/10/12
Participação na Ciranda Poética "É preciso acender a luz" do Portal A Era do Espírito, por um Mundo Novo e Melhor.