05 de Dezembro de 1985 - In contos elegíacos
Chegava o Natal.
Como todo ano, minha mãe começava desde já a preparar a ceia de Natal; os comes, os bebes, os presentes, normalmente brinquedos para os 6 filhos. Meu pai trabalhava, intensamente, apesar do vício do álcool, não faltava um dia, sequer, ao trabalho.
Os irmãos pensavam em organizar e auxiliar numa celebração de vida
inesquecível; esperávamos ansiosos as festas de fim de ano, principalmente o natal. Organizávamos amigo-secreto entre a família; brincadeiras, bailinhos.
Ah, saudável lembrança; as muitas vezes, mal dormíamos à noite de tanta ansiedade, curiosos para saber o presente que ganharíamos; levantávamo-nos de madrugada a procurar os presentes debaixo da árvore de natal, tentando adivinhar que presentes seriam de quem.
Naquele ano, porém, tudo mudou. A festa preparada para o natal: os
comes, bebes; o amigo secreto, as brincadeiras, o bailinho, os presen-
tes. Nada tinha mais sentido e desde, então, o natal, praticamente, acabou para todos nós. Não houve natal naquele ano; não tínhamos espírito natalino; os brinquedos não tinham mais sentido. O natal não
tinha mais sentido.
Minha irmã mais nova ganhou uma bicicleta - sonho de muitos anos acalentado - em fins de novembro e começo de Dezembro - mês do natal. No dia 04 de Dezembro, ela saiu a passear de bicicleta e numa
descida descontrolou-se; a bicicleta derrapou; ela caiu; bateu a cabeça na calçada.
Traumatismo craniano. Foi levada ao hospital e ainda, pediu à mãe:
- Mãe, não me deixe...
Acabou-se aí. O natal morreu naquela data junto com minha irmã.