Gustavo e Sandra (Guta e San) moravam na mesma rua, seus pais nutriam uma amizade muito antiga.
Cresceram brincando juntos.
Quando completaram onze anos, ambos seguiram vias diferentes, ou seja, os colégios dos dois não coincidiram. Ela pretendia ser uma professora e o menino foi incentivado pelos pais a fazer um curso técnico.
A amizade continuou, porém o contato não era mais habitual.
Apesar disso, Guta sempre escutava a mãe afirmar “Filho, San tem uma queda por você!”.
Guta envergonhado nada dizia, no entanto, quando observava ela conversando com um garoto, ficava sempre chateado sem saber o motivo.
Descendo a rua, se ele passava distraído, caso a garota o visse, sempre gritava “Guta! Tudo bem?”
A mãe do menino ratificava assim o palpite de que San era apaixonada por Guta.
O que a mãe de Guta talvez não tenha percebido ou não quis destacar é que a recíproca era totalmente verdadeira.
Após determinado tempo, o filho se formou, não tentou vestibular, começou a trabalhar numa boa empresa.
Seus pais faleceram. Ele ficou morando com os dois irmãos. Nessa ocasião San foi muito solidária, dando a maior força.
Ela começou a lecionar, porém não ficou satisfeita com o salário, decidiu realizar um concurso público, foi aprovada, abandonou o trabalho de professora.
Os dois conversavam muito aguardando a condução no ponto de ônibus durante as manhãs quando iam para os respectivos trabalhos.
Ela desejava demais ter um carro, ele sempre afirmou que não queria participar diretamente da loucura do trânsito.
Jamais teria um carro e enlouqueceria igualzinho aos conhecidos os quais viu comprar um carro, dizia o rapaz.
Ela pensava bem diferente, já havia até iniciado as aulas numa autoescola.
Sobre a vida amorosa dos dois, coincidentemente era pouco ativa.
Dois jovens adultos que tiveram alguns namoricos, porém nada significativo.
Aliás, existia uma espécie de pacto silencioso entre os dois. Jamais conversavam sobre paqueras ou assuntos similares.
Realmente a mãe estava certa.
“Filho, San tem uma queda por você!”
O rapaz tímido uma vez ficou entristecido quando San andou recebendo uma certa visita repetitiva. Um jovem, lembrando os galãs das novelas globais, a visitava toda noite.
O drama durou alguns dias.
Quando constatou que o Gianecchini sumiu, Gustavo dormiu sorridente e teve ótimos sonhos.
O entusiasmo que ele sentia pela bela donzela (ele descartava a hipótese dela já conhecer as delícias do sexo) nunca conseguiu fazer Guta convidá-la para um cineminha ou qualquer programa especial envolvendo apenas o jovem casal.
Já saíram juntos com os seus familiares no passado, já realizaram programas com alguns amigos, porém os dois isolados apenas desenvolviam conversas intermináveis, diálogos que encontravam mil pretextos animados.
Certa manhã, numa quinta-feira, ele notou que San não estava no ponto de ônibus. Estranhou!
À noite a moça lhe mostrou um carro na garagem da casa dela, informou que ela era a dona, pediu desculpas por não ter contado que estava comprando um carro, disse que preferiu fazer a compra secretamente para não dar azar.
No dia seguinte ele não pôde aproveitar a carona, pois os destinos dos dois eram diferentes demais.
Guta ficou um pouco triste, no entanto restava o fim de semana e algo das noites para os dois confabularem.
Na sexta chegou tarde, não conversou com San.
No sábado, após tomar café, Guta foi até a casa de San. Encontrou alguns amigos dela que ele nunca tinha visto. A moça estava levando todos à praia. Ele foi convidado, porém recusou.
Percebeu algo estranho em San. Faltava nos seus olhos a alegria a qual sempre ela revelou quando Guta aparecia.
Dessa vez sua saudosa mãe não confirmaria a teoria da queda.
Depois disso, todos os dias, quando ele descia a rua, ela não mais saía para cumprimentá-lo.
Ele suspeitou que uma vez ela fingiu não vê-lo.
Um rapaz passou a visitá-la à noite. Numa dessas noites, descendo a rua, cumprimentou San e o possível namorado, ela respondeu educadamente, porém sem nenhuma empolgação e sem o sorriso lindo que possuía.
Refletiu que a mudança de San começou exatamente no dia em que ela surgiu com o carro (havia uns vinte dias).
Numa segunda, aguardando o seu ônibus habitual, naquele mesmo ponto de ônibus que ele e Sandra (San parecia já não existir mais) tanto conversavam antigamente, Guta parecia triste.
Costumavam chegar cedo para que a conversa pudesse demorar.
Geralmente o ônibus dela chegava primeiro. Ela partia dizendo “À noite a gente conversa, Guta!”.
No dia anterior, domingo, ele a viu, ela falou friamente “Tudo bom, Gustavo!”.
Gustavo?
Jamais San dissera “Gustavo”!
Ela já dissera “Gutinha”, “Gutaço”, “Gu”, porém “Gustavo” nunca.
San já não existia mais!
A mudança era incontestável!
Nostálgico viu o ônibus que San pegava encostar, um passageiro o cumprimentou.
O veículo, hoje sem nenhuma utilidade para a atual Sandra, seguiu adiante.
Teria sido o carro o culpado? Ou teria sido sua timidez?
Tantos anos conversando, morando na mesma rua, jamais foram a um cinema!
Quem seria o culpado?
O carro ou sua falta de iniciativa?
Nesse instante percebeu o carro de San passando pelo ponto.
Ela estava indo para o trabalho.
Notou rapidamente um penteado novo.
“San continuava linda e deslumbrante!”
A cena durou pouquíssimos segundos.
Sandra não olhou para o lado, passou como se não existisse o ponto de ônibus.
Observando o carro já distante quase desaparecendo, voltou a questionar:
“Será que o culpado foi o carro?”
Por favor! Confira o milagre que aconteceu no estádio de Pituaçu!
http://www.recantodasletras.com.br/acrosticos/3938787
Um abraço!
Cresceram brincando juntos.
Quando completaram onze anos, ambos seguiram vias diferentes, ou seja, os colégios dos dois não coincidiram. Ela pretendia ser uma professora e o menino foi incentivado pelos pais a fazer um curso técnico.
A amizade continuou, porém o contato não era mais habitual.
Apesar disso, Guta sempre escutava a mãe afirmar “Filho, San tem uma queda por você!”.
Guta envergonhado nada dizia, no entanto, quando observava ela conversando com um garoto, ficava sempre chateado sem saber o motivo.
Descendo a rua, se ele passava distraído, caso a garota o visse, sempre gritava “Guta! Tudo bem?”
A mãe do menino ratificava assim o palpite de que San era apaixonada por Guta.
O que a mãe de Guta talvez não tenha percebido ou não quis destacar é que a recíproca era totalmente verdadeira.
Após determinado tempo, o filho se formou, não tentou vestibular, começou a trabalhar numa boa empresa.
Seus pais faleceram. Ele ficou morando com os dois irmãos. Nessa ocasião San foi muito solidária, dando a maior força.
Ela começou a lecionar, porém não ficou satisfeita com o salário, decidiu realizar um concurso público, foi aprovada, abandonou o trabalho de professora.
Os dois conversavam muito aguardando a condução no ponto de ônibus durante as manhãs quando iam para os respectivos trabalhos.
Ela desejava demais ter um carro, ele sempre afirmou que não queria participar diretamente da loucura do trânsito.
Jamais teria um carro e enlouqueceria igualzinho aos conhecidos os quais viu comprar um carro, dizia o rapaz.
Ela pensava bem diferente, já havia até iniciado as aulas numa autoescola.
Sobre a vida amorosa dos dois, coincidentemente era pouco ativa.
Dois jovens adultos que tiveram alguns namoricos, porém nada significativo.
Aliás, existia uma espécie de pacto silencioso entre os dois. Jamais conversavam sobre paqueras ou assuntos similares.
Realmente a mãe estava certa.
“Filho, San tem uma queda por você!”
O rapaz tímido uma vez ficou entristecido quando San andou recebendo uma certa visita repetitiva. Um jovem, lembrando os galãs das novelas globais, a visitava toda noite.
O drama durou alguns dias.
Quando constatou que o Gianecchini sumiu, Gustavo dormiu sorridente e teve ótimos sonhos.
O entusiasmo que ele sentia pela bela donzela (ele descartava a hipótese dela já conhecer as delícias do sexo) nunca conseguiu fazer Guta convidá-la para um cineminha ou qualquer programa especial envolvendo apenas o jovem casal.
Já saíram juntos com os seus familiares no passado, já realizaram programas com alguns amigos, porém os dois isolados apenas desenvolviam conversas intermináveis, diálogos que encontravam mil pretextos animados.
Certa manhã, numa quinta-feira, ele notou que San não estava no ponto de ônibus. Estranhou!
À noite a moça lhe mostrou um carro na garagem da casa dela, informou que ela era a dona, pediu desculpas por não ter contado que estava comprando um carro, disse que preferiu fazer a compra secretamente para não dar azar.
No dia seguinte ele não pôde aproveitar a carona, pois os destinos dos dois eram diferentes demais.
Guta ficou um pouco triste, no entanto restava o fim de semana e algo das noites para os dois confabularem.
Na sexta chegou tarde, não conversou com San.
No sábado, após tomar café, Guta foi até a casa de San. Encontrou alguns amigos dela que ele nunca tinha visto. A moça estava levando todos à praia. Ele foi convidado, porém recusou.
Percebeu algo estranho em San. Faltava nos seus olhos a alegria a qual sempre ela revelou quando Guta aparecia.
Dessa vez sua saudosa mãe não confirmaria a teoria da queda.
Depois disso, todos os dias, quando ele descia a rua, ela não mais saía para cumprimentá-lo.
Ele suspeitou que uma vez ela fingiu não vê-lo.
Um rapaz passou a visitá-la à noite. Numa dessas noites, descendo a rua, cumprimentou San e o possível namorado, ela respondeu educadamente, porém sem nenhuma empolgação e sem o sorriso lindo que possuía.
Refletiu que a mudança de San começou exatamente no dia em que ela surgiu com o carro (havia uns vinte dias).
Numa segunda, aguardando o seu ônibus habitual, naquele mesmo ponto de ônibus que ele e Sandra (San parecia já não existir mais) tanto conversavam antigamente, Guta parecia triste.
Costumavam chegar cedo para que a conversa pudesse demorar.
Geralmente o ônibus dela chegava primeiro. Ela partia dizendo “À noite a gente conversa, Guta!”.
No dia anterior, domingo, ele a viu, ela falou friamente “Tudo bom, Gustavo!”.
Gustavo?
Jamais San dissera “Gustavo”!
Ela já dissera “Gutinha”, “Gutaço”, “Gu”, porém “Gustavo” nunca.
San já não existia mais!
A mudança era incontestável!
Nostálgico viu o ônibus que San pegava encostar, um passageiro o cumprimentou.
O veículo, hoje sem nenhuma utilidade para a atual Sandra, seguiu adiante.
Teria sido o carro o culpado? Ou teria sido sua timidez?
Tantos anos conversando, morando na mesma rua, jamais foram a um cinema!
Quem seria o culpado?
O carro ou sua falta de iniciativa?
Nesse instante percebeu o carro de San passando pelo ponto.
Ela estava indo para o trabalho.
Notou rapidamente um penteado novo.
“San continuava linda e deslumbrante!”
A cena durou pouquíssimos segundos.
Sandra não olhou para o lado, passou como se não existisse o ponto de ônibus.
Observando o carro já distante quase desaparecendo, voltou a questionar:
“Será que o culpado foi o carro?”
Por favor! Confira o milagre que aconteceu no estádio de Pituaçu!
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Um abraço!