PERDÃO
PERDÃO
De forma sutil e com um sorriso cativante, ele foi se aproximando das pessoas e as conquistando com seu jeito simples de ser. Aparentava ter seus trinta e poucos anos, cabelos negros, olhos verdes, alto, sorriso aberto a todo o momento. Deixava boa impressão entre os homens e mulheres que, entre um sorriso e outro, se desmanchavam em delicadezas para com aquela pessoa. Enfim, estava sendo o alvo das atenções.
Vera, que tudo observava, parecia não estar nada à vontade. “Quem será esse sujeito que está causando todo esse rebuliço? Logo hoje!” – pensava ela, já com o ciúme tomando conta por causa do sucesso do visitante. Logo hoje que era ela que devia ser paparicada, pois se tratava da exposição de quadros e gravuras de sua autoria. Sua primeira exposição e não aceitava fracassos.
O local da exposição era agradável, bem iluminado e que dava realce à s obras. Eram quadros pintados a óleo e gravuras feitas à lápis. Das gravuras a que mais chamava atenção era um desenho de São Francisco de Assis, seu santo preferido e símbolo da humildade, mas que não condizia com seu sentimento que estava começando a tomar conta de seu coração.
Mauro, seu colega de faculdade, aproximou-se e comentou:
- Bela exposição, Vera! Parabéns.
- Quem é aquele cercado das pessoas, que tanta atenção atrai? – perguntou, ignorando o cumprimento.
- Aquele é o...
Ela não deu tempo de o amigo completar a frase.
- Também não interessa! Não quero saber.
Mauro se afastou dela procurando imaginar o que estava acontecendo. Nunca a viu daquele jeito. “Quanta educação...” – pensou ele.
“Quem será que o convidou?” – continuava ela a resmungar.
De repente ela notou que Mauro caminha em sua direção juntamente com a pessoa que tanta sensação causava em sua festa. Aproximaram-se.
- Vera, quero lhe apresentar o...
Outra vez não deu tempo de Mauro completar a frase. Foi logo falando, irritada.
- Quem é você que veio atrapalhar minha festa? Quem o convidou?
- Eu sou...
- Por favor, queira se retirar.
Mauro, morrendo de vergonha, não sabia onde enfiar a cara.
- Nos veremos outras vezes. Boa noite e boa festa. – disse o estranho, despedindo-se.
“Boa noite e boa festa! Você estragou tudo!” – pensou consigo mesma.
Véspera de Natal. Pela primeira vez, nessa época do ano, Vera não se sentia bem. Resolveu espairecer indo dar uma volta pela cidade. Estava sozinha e sentia cada vez mais a solidão. As ruas muito bem enfeitadas com decorações natalinas era um contraste com seu estado de espírito. A alegria estava toda a sua volta e ela cada vez mais triste.
Em seu passeio não deixou de notar a igreja repleta de gente aguardando a missa. Muita alegria e expectativa da hora de comemorar o nascimento do menino Jesus. Há quanto tempo não entrava em uma igreja para rezar? Sentou em um banco da praça e começou a pensar em tudo que fizera na noite passada. As luzes do interior da igreja cada vez mais a atraiam. “Será que devo entrar?” – pensou ela. Não tinha coragem, mas precisava decidir.
Sem esperar Mauro apareceu e lhe convidou:
- Vera, vamos entrar? Veja só que alegria está lá dentro. Acho que vai fazer bem a você.
- Será? Faz tempo que não entro em uma igreja. Não sei se estou preparada.
- Deixe disso. Venha comigo.
Levantou-se e acompanhou seu amigo.
Ao entrar, aquele ambiente iluminado, cheio de paz e alegria começou a fazer efeito em Vera. O ar de tristeza começou a deixar seu rosto e uma paz começou a tomar conta de seu coração. Puxando-a pelo braço, Mauro levou-a até a sacristia para apresentar o novo padre da comunidade.
- Você??? – assustou-se Vera.
- Seja bem-vinda à casa do Pai. Que bom tê-la aqui.
-Mas... – tentava compreender o que estava acontecendo.
-Pois é. Sou eu mesmo, padre Adolfo. Cheguei há dois dias para tomar conta dessa paróquia.
O remorso começou a tomar forma em sua mente e precisava pedir perdão pelo ato que tinha cometido. As lágrimas começaram a correr e não teve como impedir.
- Padre, eu te peço...
Não deixou completa a frase.
-Jesus já te perdoou, minha filha. Seja bem-vinda à casa do Pai.
- Mas eu te expulsei e te ofendi de maneira injusta ontem. Merecia ser expulsa daqui.
- O Pai não expulsa ninguém, ainda mais da sua Casa. Ele acolhe a todos que precisam. Mais uma vez seja bem-vinda.
O temor foi indo embora e uma grande alegria tomou conta de sue coração e, por isso, só queria agradecer a acolhida e não deixar que as aparências a enganassem.
Estava de volta ao seu lugar.