Comprimido
Lucas é um menino peralta que acabara de entrar em férias. Mas, por ironia do destino, é arrastado pela sua mãe até o consultório do Doutor Plínio.
- Doutor, esse menino está com algum problema, mas não me deixa ver. Vejo que fica se coçando a todo momento, e quando chego perto ele disfarça.
- Muito bem garoto, me diga seu nome...
- Lucas, igual aquele menino do mundo da lua.
A mãe logo explica: - ele gosta de seriados infantis antigos!
- E o que você está sentindo agora?
- Agora eu sinto preguiça. Se tenho alguma dor é essa. Dor de preguiça!
O médico continua com a especulação:
- Mas, por que você fica se coçando e ainda diz que não tem nada?
- Mas eu não tenho nada doutor, me coço as vezes, mas é somente de preguiça.
Doutor Plínio olha com curiosidade e logo pergunta: Como assim?
- Ah, tenho preguiça de tomar banho, e a sujeira me dá coceira.
- Bem observado - disse o médico. - Mesmo assim, preciso que tire a camisa para que eu possa te examinar.
O menino titubeia por um momento, mas a cara de brava da mãe faz com que ele siga as instruções do médico. O doutor analisa as manchas vermelhas nas costas do piázinho e fala:
- Isso é bugreiro, vou receitar uma injeção e logo ele estará melhor.
Espantado, Lucas dá um pulo da maca e exclama:
- Injeção??? Mas não mesmo, prefiro ficar me coçando pelo resto da vida!
A mãe paciente pergunta ao médico:
- Dr, não tem nem um outro remedinho que melhore a situação?
- Tem sim, mas acho que ele não vai gostar, é um comprimido, pode tomar a cada oito horas.
O menino esboça uma risadinha e fala: Rá, pode receitar, melhor do que levar picadas!
Mãe e filho foram para casa, e na hora de tomar o remédio foi aquela briga. Ao ver o tamanho do comprimido, Lucas se recusou a tomar.
- Não vou tomar isso aí, tem o tamanho de uma pilha de brick game!
A mãe o obriga a tomar, mas sem sucesso. Ele sai correndo pela porta e some pela rua.
Assim se seguiram os outros dias, o menino rejeitava o comprimido de todo jeito: com leite, quebrado ao meio, diluido no suco... e a mãe, preocupada com as manchas do corpo que só aumentavam, continuava a tentar.
Lucas fez de tudo para não tomar o remédio, ate mesmo foi na missa, acordava cedo e fazia o café, ajudava com a louça.. tudo na esperança da mãe ficar mais contente e esquecer que ele tinha que tomar o remédio. Até coroinha para ajudar o padre na igreja ele foi.
Mas um dia, ele amanheceu muito pior, e lá foi de novo a mãe com ele arrastado ao consultório do Dr. Plínio:
- Não vai ter solução, vai ter que tomar injeção ou daqui a pouco ele entra em choque anafilático.
A mãe desesperada concordou, e antes que o garoto tentasse escapar, já haviam duas enfermeiras de plantão segurando-o pelo braço.
- Não, não, me solta!
E lá foi, duas injeções, uma no braço e outra na nádega esquerda.
- Viu, até que não foi tão ruim!
- Diz isso porque não foi na sua!
- Olha o respeito menino, fala direito ou te sento uma chinelada!
Lucas foi para casa, meio dolorido. Ainda ficou mais uns dias com dor, e quando finalmente se recuperou, disse para a mãe:
- Agora posso aproveitar minhas férias!
- Que nada, se esqueceu que ficou de exame em matemática? Agora você vai para a aula de reforço a semana toda, e vai logo que na próxima segunda recomeçam as aulas, você tem prova de recuperação.
Lucas ficou furioso, mas pelo menos aprendeu a lição: Nunca mais se esfregou no bugreiro para fingir estar doente e ficar na mordomia.