O néctar do êxtase
A claridade matinal tirou-o dos braços do delírio inconsciente num acordar solitário. De olhos fechados, tateou de cá para lá na esperança de encontrar aquele calor – singelo e delicado – inundado de lascívia.
Atiçou a audição em busca de algum ruído de cozinha ou banheiro. A vitrola já tocara a última há horas e o vácuo daquele apartamento denunciava a solidão.
Levantou, sem abrir os olhos, sentindo sua presença na ausência. O suave aroma daquelas curvas, milimetricamente tateadas na noite anterior, era a bússola em direção ao clímax.
Na sala: nada. Na cozinha, também. No banheiro… nenhum sinal. No escritório – sem rastros. O quarto! Voou como uma coruja, de dia, ao antro dos prazeres em que há pouco saíra.
Sentiu.
Pensou que era a colcha e os lençóis – já que deitara e se cobrira, mas o cheiro concentrava-se em outro lugar. Não queria abrir os olhos porque sonhara com ela e desejava prolongar tal feita.
Tateou o armário e, no fundo, uma veste de renda exalava o aroma que embriagara-o naquela noite e, agora, entranhava em suas narinas. Pegou a vestimenta e, com toda a força da inspiração, inalou aquele néctar afrodisíaco voltando ao êxtase de sono e sonhos profundos…
* Escrito em 15/11/2011.