CARNE VIVA

Abriu os olhos. Viu a luz do sol de uma nova manhã e mais uma vez sentiu as lágrimas e a dor que insistia.

Ainda se sentia suja. Usada. Triste.

Naquela manhã estava numa cama, mas a sensação ainda era do chão duro do matagal em que foi encontrada depois do ocorrido.

Fechou os olhos, viu mais uma vez, a figura sobre o seu corpo. Usando. Machucando. Matando. O cheiro do suor ainda causava náuseas. O ventre ainda inoculava o veneno e a ferida da alma doía em carne viva.

Tinha consciência que precisava levantar. Seguir. Voltar a viver. Só esperava o tempo como o bálsamo que, pelo menos, aliviaria a dor. Chorou mais uma vez, enquanto levantava pedindo que tudo passasse logo.

Nota do Autor: Escrevi estas linhas num singelo momento de respeito a todos que sofrem, ou sofreram, com o abuso na alma.