BUIÃO

Ele ficava lá, sentado num canto da área de atendimento da agência do Banco daquela pequena cidade de Malas do Sul. Deficiente mental, uns trinta anos, parecia mais velho - talvez dado aos maus tratos da pobreza e do abandono -; baixinho em razão das pernas muito curtas; descalço e com roupas humildes, porém limpas; um chapéu velho, um embornal e o inseparável "relho" (chicote de couro com cabo de madeira destinado a açoitar animais de tração de carroças) que usava para defeder-se das provocações dos moleques e das pessoas insensíveis. Aí está desenhado o Buião.

Às vezes, no sossego daquela agência, Buião cochilava sentado. Ali ficava, parecia protegido do mundo. A turma o tratava bem e, às vezes, o ajudava financeiramente também. Havia um colega com o qual Buião mantinha um maior relacionamento, provavelmente por este dar-lhe mais atenção.

Um dia esse colega, muito brincalhão, aproveitando-se do cochilo de Buião, tirou de seu ombro o relho e escondeu-o. Foi um desepero para o pobre coitado não encontrar seu instrumento de defes. Pareceu sentir-se desprotegido, talvez traído. Procurou no chão, atrás do assento e foi tartamudear com o seu "protetor", que disse a ele ter sido um outro colega quem havia tirado dele seu relho. Começou a gritar para chamar a atenção deste:

-Ôu, ôôu, ôôôu...

-Xinga ele - disse o autor da "brincadeira"

-Ô, pelapu (filho da p...), ô pelapu - gritava.

Muitos risos. Nino ficou triste. Um palhaço muitas vezes nos faz rir por ser desastrado, debochado ou simplesmente engraçado. Quase sempre tem talento para isso. Não era o caso de Buião. Nino ficou pensando que talvez Deus tenha dado a esses anjos algo mais do que ser mentalmente crianças...

Conto retirado do livro "CONTOS DE UMA VIDA BANCÁRIA", do autor.

AGOSTINHO PAGANINI
Enviado por AGOSTINHO PAGANINI em 08/10/2012
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