PROCURA-SE UMA MÃE

Foi numa noite quente de um mês de dezembro com bastante movimento de gente nas ruas. “Um convite para os bandidos”, comentou Freitas. O parceiro Douglas devolveu com um olhar afirmativo. Juntos há quinze anos, eram considerados policiais exemplares. Com a viatura parada naquela esquina próxima a Praça Mauá, aguardavam os “acontecimentos”. De repente uma chamada no rádio “Atenção viaturas, assalto com reféns na Rio Branco”, Douglas prontamente respondeu “Policias Douglas e Feitas, viatura 362, partido para o local”.

Ao chegarem, ouviram o burburinho causado pelo numero de curiosos e as informações passadas pelo gerente da pequena loja de lanches: “É um destes menores que vivem por aqui. “ta” doidão. Puxou uma faca e ameaçou a balconista. Reagimos e ele a levou para o banheiro e agora ta lá falando que vai matar a garota”. Freitas desembainhou a pistola. Douglas repetiu o gesto. Entraram na loja. Localizaram o banheiro. “Quem está aí?” perguntou uma voz infantil. “Calma, estamos aqui para te ajudar” respondeu Douglas. “Eu Não quero ajuda. Vai embora!” ordenou. “Vamos lá rapaz, não piore as coisas. Solte a menina” disse Freitas. Em posição de tiro, Freitas apontou a pistola. Douglas fez um sinal de tempo para o parceiro. Freitas respondeu que não e gritou: “Olha aqui rapaz, eu já estou de saco cheio de vocês. Solta a menina, seu FDP! Solta logo porra!” Douglas conhecia o parceiro. Sabia que a paciência definitivamente não era um de seus predicados e que a “invasão” aconteceria a qualquer momento. Foi quando, ouviram um som estranho. Freitas olhou para Douglas numa pergunta silenciosa. Em segundos, Douglas se aproximou e conseguiu ver por uma fresta da porta que o menino chorava compulsivamente. Ele matinha a faca encostada na garganta da atendente, mas parecia desesperado. Douglas aproximou-se e disse: “Olha aí rapaz, tenho você na mira. Agora é contigo, solta a menina e se entrega ou...” Ameaçou e apontou a pistola. Foi quando o olhar do menino encontrou o olhar do policial. Um momento. Um segundo. O menino então passou a chorar mais alto e soltou a refém. O policial surpreso entrou no cômodo. O menino então passou a gritar: “Mamãe! Mamãe!” Douglas ainda surpreso o segurou com força e o menino suplicou: “Por favor, tio, não me bate, eu me entrego... Por favor, chama a minha mãe”. Douglas, confuso, levou o menino até a viatura cercada por curiosos que xingavam e pediam “Justiça”.

Pelo Rádio, os policiais comunicaram a apreensão e partiram para a Delegacia. No caminho, Freitas incomodado com o silencio do parceiro perguntou: “O que houve Douglas? Que cara é essa irmão? Ta com pena do filhote de capeta?”; Douglas olhou para o parceiro e respondeu: “Ele só precisa da mãe dele amigo. Só isso”; a partir daquele momento, ninguém falou mais nada até o fim do percurso.