Aprendendo a beijar
Mauro me ensinou a beijar. Foi no quintal da minha casa, em um quartinho onde meu pai guarda essas coisas de homem, como martelo, chaves, parafusos, pás, azulejos para emergência, etc. Bem, ensinou é modo de dizer, porque ele também nunca tinha beijado na boca antes daquele dia. Corrigindo a informação: foi com Mauro o meu primeiro beijo. E não foi um beijo bom não! Além do medo que eu tava de minha mãe acabar de lavar a louça e sair como uma louca, doida atrás de mim pra saber o que eu tava aprontando, o beijo de Mauro tava cheio de baba. Na boa: o beijo foi nojento!
Foi com Marcelo o meu segundo beijo. Foi um beijo estranho! Marcelo era meu irmaozão, camarada firmeza. Ele não queria me beijar, dizendo que eu era só sua amiga, não tinha clima, aquilo não ia dar certo - acho que o Marcelo é meio veadinho! Eu tive que insistir muito pra ele fazer aquilo e que decepção: o beijo do Marcelo não teve baba, mas também não teve nenhuma empolgação! Se eu fosse atriz diria que dei um beijo técnico, porque pra quem viu, o beijo tava lá acontecendo bonitinho, mas pra quem tava beijando, no caso eu, parecia que o Marcelo tava distante da cena, talvez pensando algo como “quero fazer xixi”. Foi um beijo sem graça!
Ah, o meu terceiro beijo e beijo de verdade, foi com Samuel... Como eu gostava daquele mulato! Um rapaz bonito, falante, cheio de charme... Um dia a noite ele me chamou pra conversar, me levou lá pros lados da venda de seu Paulo que já tava fechada, e cheio de manha foi me empurrando pro canto do muro, numa parte bem pouco iluminada e quando dei por mim, tava lá eu imprensada contra a parede. Ele ficou bem juntinho de mim, com o rosto tão coladinho no meu, que dava para sentir o cheiro da pele dele. Ele foi chegando à boca dele pra perto da minha, até colar uma na outra e aí aconteceu o beijo. Foi maravilhoso! Um beijo dado com vontade, gostoso. Fiquei até de perna bamba, sem folego!
Depois de Samuel minha sorte virou e aconteceram outros beijos ótimos! Com o tempo passei a experimentar a boca dos meninos como se provasse doce em festa, só aprimorando a minha técnica. Modéstia a parte, me tornei a rainha do beijo! Eu beijava bem pra caralho e tinha fila de menino querendo ficar comigo. Mas o toque final na minha técnica, a cereja do bolo, o que fez meu beijo se tornar insuperável, foi a Márcia quem deu. Foi ela mesma que se ofereceu pra me mostrar o que nenhum menino tinha feito, me dizendo que só depois que eu beijasse uma mulher, sentindo toda a delicadeza que um beijo feminino tem, eu saberia o que precisava pra meu beijo se tornar inesquecível.
Topei! Se ela tinha algo a ensinar eu queria aprender. Não queria perder meu primeiro lugar no quesito beijo pra nenhuma outra menina do meu bairro! Decidida beijei Márcia e gostei. E beijei, e beijei, e beijei. Não queria mais parar de beijar! O beijo de Márcia era doce como pudim de leite e eu queria comer a forma toda, beber a calda. Ela tinha razão: beijar mulher não era igual a beijar menino. Era muito melhor!
Márcia, uma descarada, depois do beijo me pediu em namoro. Pode uma coisa dessa? Eu disse que não! Que aquele beijo foi só pra experimentar. Pra ver a diferença entre beijo de menino e menina. Disse que só beijei mesmo pra aprimorar a minha técnica, mas aceitei sua amizade. Nós até marcamos de ir no cinema, assistir a gracinha do filme dos Smorfs.
Namoro com a Márcia eu não quero não, mas do jeito que ela beija bem... Mais pra frente, quem sabe?