Ansiedade

Quando Juliana saiu da sala de aulas, sua cabeça estava quente de tão impaciente. Andava quase correndo quando ao chegar a uma esquina um redemoinho lhe deu um banho de poeira e, por um momento ela não via nada; ficou tão furiosa que começou a xingar até que se deu conta que algumas pessoas que passavam naquele instante a olhavam desconfiadas e assustadas com seu vocabulário vulgar.

Mas quando chegou em casa e deu um tempo debaixo d’água, tudo começou a ficar melhor mais confortável. Enquanto a água tirava de seu corpo toda a sujeira e o cansaço, começava a pensar no que iria apresentar na sua turma no dia seguinte. Enrolada de toalha à escrivaninha do seu quarto, a caneta deslizava na sua mão dando forma tangível a uma idéia. O que a professora lhe encomendou, faria de modo exemplar: um texto que relatasse o papel do aluno na sociedade; explicando aos colegas esse processo repleto de controvérsias na passagem gradual de uma sociedade para outra onde os conceitos são analisados, debatidos e sempre tendo alguns valores substituídos por outros, dentre outras características sociais e culturais. Ficou muito feliz quando terminou seu texto, dizendo a si mesma: “Eu sou demais, eu consegui” E, assim, levantou-se da cadeira alcochoada e foi fazer um lanche de goiabada caramelado de creme de leite, e depois, estirada no sofá da sala, apertando o botão do controle-remoto, ligou a TV bem na hora do filme “PREMONIÇÃO” na sessão TELA QUENTE.

A noite foi tranquila. Depois das treze horas, Juliana entrava um pouco nervosa na sala de aula; trêmula e gélida aguardou o chamado de sua professora. Suas amigas lhe pediam para que se acalmasse e, finalmente, chegou sua vez. De pé, enfrente à sua turma, começou a ler e bem ali conseguiu mais uma vitória; estava atravessando suas próprias dúvidas e medos, sentindo que pode ir mais longe.

E nem sequer o aspecto deteriorado da escola, revelado pelos anos sem nenhuma reforma, conseguiu impor desânimo em Juliana.

Adoxus