O Jantar - In contos

O sonho dele, Adelmo Telmo, era, algum dia, levar a esposa para jantar fora. Ele não queria, apenas rodízio, self-service, lanchonete; ele queria levá-la a um restaurante chiquérrimo, em que ele usasse terno e gravata e ela, lindo vestido de noite.

Adelmo Telmo era uma pessoa cuja simplicidade beirava a pobreza. Adelmo ganhava a vida com a modesta profissão de pedreiro, por isso, já planejava este jantar desde eras remotas. A esposa companheira, fiel, sempre esteve ao seu lado, dando-lhe forças. Ela merecia. O dinheiro juntado ao longo de alguns meses, acreditava ele, era suficiente para comer bem...e a sobremesa???. Devia dar, afinal, juntara esse dinheiro para isso. Tinha que dar.

Felicidade completa à noite no jantar. Sentados em cadeiras almofada-

das; candelabros de velas na mesa; vaso de rosas, e para a sua surpresa uma porção de aparatos na mesa. Adelmo Telmo não sabia existir tantos aparatos, apenas, para um jantar: galfos de dois dentes;

de 1 dente; de 3 dentes; coié rasa, coié funda; pratos de diversas

dimensões: fundos, rasos, médios. E as taças ???. Taças, no mínimo, três : duas taças com líquido incolor, uma taça com líquido escuro. E

a tigelinha???. Meu Deus, pra que serve isto ??, pensou ele. A ti-

gelinha, também, continha um líquido incolor. Ele não sabia pra que ser-

via aquilo. A esposa, também, admirada, não sabia o que fazer.

Chegou o cardápio; o garçom todo ereto, engravatado, riso congelado, cordialidade fossilizada, esperava feito estátua estúpida e sem vida.

Sem entender necas do que lia, Adelmo decidiu não demonstrar ignorância, e pediu, num ímpeto corajoso aqueles pratos de nomes difíceis. Oh, tristeza, ignorância profunda que nos torna vítimas de

nossas próprias decisões .

Chegado que fora os pratos pedidos, Adelmo não deixou escapar uma exclamação:

- O que é isto ???.

O garçom risonho riu, respondendo :

- O que o senhor pediu.

- Jura ???. Eu pedi isto ???.

- Pediu. Espero que esteja a seu gosto.

Adelmo olhou para a esposa, que com cara de nojo, queria, também, vomitar e sair correndo daquele restaurante onde o próprio Satanás devia ser o cozinheiro.

- Deus do Céu, como comer isto ??. Esta coisa em caracol com uma cabeça com chifrinhos !!!. E esta coisa fechada em concha ??. E esta

coisa com perninhas que falta passear pelo prato ??.

Na dúvida, decidiu tomar água. Pegou do primeiro copo : uma taça com líquido incolor. Bebeu um gole: era vinho branco; pegou da segunda taça de líquido escuro: era vinho tinto. Desistiu das taças e

pegou a tigelinha e sem hesitar bebeu-a toda. Era água para molhar os dedos, lavando-os. Soube-o depois.

gerson chechi
Enviado por gerson chechi em 30/09/2012
Reeditado em 08/11/2012
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