O Próximo Passo

O Próximo Passo

29/09/2012

Era noite. O barulho dos trovões me fez despertar. Pelas frestas da janela passava a luz dos relâmpagos que iluminavam de maneira disforme os objetos do quarto criando sombras tenebrosas. Olhei as horas e o relógio marcava 2:30. Levantei-me e fui à cozinha beber água. Senti o frio da noite, voltei ao quarto onde ficavam os guarda-roupas e quando procurava um agasalho, um estrondo jamais ouvido estremeceu o ambiente fazendo a luz se apagar e o copo de água molhar o curto short do pijama o que quintuplicou a sensação de frio. Voltei ao meu quarto para pegar a lanterna que sempre estava na primeira gaveta da cômoda, papéis e objetos sempre pontiagudos caiam à medida que minha mão se aprofundava na busca pela redentora lanterna.

O frio se tornava insuportável bem como a sensação que tinha de menos valia por não ter o zelo em guardar ou pelo menos conferir se a lanterna estava no lugar de sempre antes que a luz se apagasse.

Os relâmpagos que a princípio iluminavam meus claudicantes passos já não mais se mostravam, tornando a escuridão total. Tropegamente me pus a tatear as roupas dependuradas nos cabides do guarda-roupa e ao pensar em ter encontrado a veste que me abrigaria do congelante frio que me fazia tremer dos pés a cabeça, levanto o cabide e junto com ele desloco do suporte o pau do cabideiro derrubando todas as roupas . Sentei-me no chão. A raiva me aquecera. Estava a blasfemar os mais violentos impropérios ao criador por tão duro castigo a uma única criatura quando observo que na cozinha a luz se fez. Levanto do chão e acendo a luz do quarto me surpreendendo ao observar que todos os cabides continuavam no cabideiro à exceção daquele que continha o agasalho que havia, pelo tato, selecionado. Retirei o pijama já não tão frio e molhado com ele acabando de me secar, vesti o agasalho e segurando com apenas uma das mãos o cabideiro, o recoloquei no devido suporte. Olhei o chão e vi míseras gotas de água que não careciam serem secas. Voltei ao meu quarto e observei que os papéis e objetos que caíram da gaveta da cômoda enquanto procurava a lanterna eram sucatas, envelopes e embalagens sem serventia e com poucos movimentos do corpo recurvado, o que passei a dar conta com um mês de academia, foram ajuntados e postos na sacolinha de supermercado, assassina do meio ambiente, para o seu destino final.

Ao voltar à cama vi, sobre o criado mudo, ao lado do relógio que marcava 2:34, a lanterna tão ansiada.

Com sonora gargalhada comemorei meu insensato desespero e mais uma vez constatei que a escuridão é sempre mais breve do que parece e que não devemos procurar a luz ao longe ela sempre estará ao nosso lado quando precisarmos.

Geraldo Cerqueira