A QUESTÃO

“O que é família?” foi a pergunta que surpreendeu Pepe, o velho jornaleiro numa conversa com Escurinho, um menino que dormia na mesma Avenida Rio Branco, local onde se localizava a banca de jornal do “Gringo”.

Há trinta anos que todo dia, Pepe dividia seu café com a criançada que dormia sob as marquises e Escurinho era um destes que sobreviviam ali do Centro do Rio. Tinha um rosto fino, sorriso espontâneo e assim como muitos, sonhava em ser “alguma coisa na vida” apesar da “vida”. Pepe não perguntava sobre a história dele, assim como não fazia com os outros. Sabia que a dura realidade das ruas moldava alguns perfis, porém sempre que podia falava sobre as muitas oportunidades da vida.

Naquela manhã em especial, Pepe comentou sobre o carinho da esposa Minervina ao preparar o café e os pães e num agradecimento espontâneo disse em voz alta: “Graças a Deus por minha Família”. Foi quando Escurinho, parou de comer o pão e fez a pergunta: “O que é família, “seu” Gringo?”; Agora Pepe estava ali, mudo, com uma lágrima teimosa molhando seu velho rosto espanhol, vivendo a dura realidade de não ter palavras diante de uma realidade tão cruel.