SOPRO DE HONRA

Aguiar tinha certeza que encontraria o principal responsável pelo mal que assolava os adolescentes e jovens da região, naquela boate. Sua experiência de mais de trinta anos de policia marcados pela seriedade e profissionalismo, embasava a busca além dos pequenos viciados presos todas as noites e madrugadas. Ele tinha certeza que o “tubarão” estava próximo e se sentindo seguro pela estrutura que supostamente o protegia.

Aproximou-se do balcão, pediu uma vodca. Olhou no pequeno relógio de pulso, passava das duas da manhã. Tinha em mãos alguns detalhes sobre a figura e, mesmo com a falta de vontade do delegado, ali estava, esperando o momento certo. Num certo momento, viu quando dois homens apontaram para um determinado lugar. Viu também quando dois jovens seguiram a indicação. Sorveu a bebida. Pediu mais uma. Esperou. Observou cada movimento até que sentiu um objeto frio cutucar suas costas: “Não olhe. Só siga em frente” ouviu. Obedeceu. Foi até um corredor mal iluminado onde encontrou outros homens que indicaram uma sala. Entrou e viu um rapaz, louro, vinte e poucos anos, bem vestido, rosto largo e um sorriso debochado. “Olá detetive. Espero que esteja se divertindo” disse num tom comedido. “O que faz aqui? Não bastam as prisões do ultimo mês?”. Aguiar não respondeu. “Já sei! Seu faro de policial te diz que aqueles eram os peixes pequenos?! Que besteira homem. Pra que? Pra nada! Todos que trabalham com você comem aqui, na minha mão. Menos você é claro! Aguiar, o incorruptível! Pois bem! Tenho uma proposta. Aqui nesta mala tem dois milhões. Em notas de cem. E aí apontado nas suas costas, uma beretta. Agora a escolha é sua: ou uma coisa ou outra. E vamos logo, não tenho tempo a perder”. Aguiar engoliu um seco. Sabia que a tal figura era influente. Filho de um “nobre” senador da republica. Preso várias vezes, mas sempre beneficiado pelas “aberturas” da Lei. E agora? O que fazer? Estendeu a mão e pegou a mala. “Ok, Detetive, fez uma boa escolha. Agora vá e saiba que eu sei tudo sobre a sua vida, inclusive a porcaria do colégio publico que seus filhos estudam”. Aguiar sentiu a ameaça, mas conseguiu manter a calma. “Vá embora!” ouviu. Virou-se e foi.

Na porta voltou-se e disse “Quem sabe um dia, este povo pára de reclamar dos desmandos e aprende a votar”. Poucas pessoas presentes naquela sala entenderam a frase do policial que desapareceu depois do corredor para nunca mais voltar.