Espelhos de mim

(do livro ''Partes da minha vida'')

Já é quase noite, continuo sozinho, estou me dando conta que cada dia estou mais longe dos meus planos, ela está se afastando a cada hora, a cada encontro desmarcado.

Coloquei todos os espelhos da casa ao redor da minha cadeira e girei, gritei e girei, como se quisesse ser salvo ou como se jamais tinha sido amado, é assim que me sinto agora.

Minha vida são degraus de vidros, uma ilha transparente de saudade e separações, é difícil falar de amor quando o não vem na frente do sim, me sinto aprisionado por um amor que parece não mais me querer.

Olho meus espelhos e nada refletem, nenhuma paixão tem meus olhos ou tenho paixão demais? Quando falo de amor ela parece que foge, não sei por onde começar ou recomeçar, não quero pedir, não quero chorar, mas me sinto só, cada vez mais sozinho aqui, junto aos meus espelhos que neste momento apenas refletem minha solidão.

Não sei onde errei, tenho certeza que fiz tudo certo, apenas quero companhia, ser amado, assim como eu a amo.

Olhando bem, acho que estou perdendo aquele meu jeito, a expressão de um homem feliz, até a poucos dias estava tão diferente, tudo era intenso, capaz, impuro, certo, sei lá, tinha um sabor de vida, agora sinto que está acabando.

Preciso quebrar o encanto do primeiro espelho, ele reflete despedida, somos apenas vidro que misturamos ao aço de sentimentos, podemos fitá-lo, tocá-lo, mas não temos como mudar ou retirar a imagem do peito, ela está tatuada dentro, como se meu espelho gravasse sua imagem para sempre, sem mais nada refletir, apenas o seu rosto e este sentimento de amor.

Quero neste meu amor a mesma intensidade que tem o aço que cobre o vidro, quero refletir nela meus desejos, preciso mostrá-la o amor que tenho, pelo menos uma última vez, sincronizar nossas imagens no mesmo espelho das nossas almas.

Hoje olhei bem através destes todos espelhos, cada um reflete bem meus pecados, alguns coletivos e muitos outros somente meus, sinto-me como o vinho que deixa mancar a língua e vai multiplicando suas marcas corpo adentro até onde o açúcar reage e o faz parar de sonhar.

Hoje meus espelhos me disseram: - Pare, olhe para onde estão indo seus sonhos.

-Pare, olhe onde estão seus sentimentos.

-Olhe seu rosto, começa a ficar triste, começa a deixar de sonhar e pede, apenas pede carinho em um quase implorar.

Malditos espelhos que dizem verdades tão duras, tento desmenti-los, mas impossível, eles não mais acreditam na minha palavra, para dizer a verdade, estou quase eu mesmo não acreditando, estou me perdendo a cada reflexo negativo, a cada impedimento.

Já é noite, vou deixá-los como estão, quero me olhar mais, de onde estiver, para onde for, até que tenha uma atitude, boa ou ruim, uma desculpa, um não, um sim, jamais quero todos estes talvez.

Mais à noite quebrarei todos os degraus de vidro da minha vida, desmontarei as escadas, quero amor de verdade, amor para toca a carne, que lambe os lábios, amor que fale de amor, sem restrições, sem medos, sem felicidade agora, mas daqui a pouco tudo que todos os espelhos do mundo podem refletir.

Espelhos meus, pedaços de sentimentos que espalhei pela casa, o corpo dela é minha casa, cada um sentimento veio deste amor que está se tornando impossível, como os sonhos de liberdade que um dia sonhei para nós.

10/02/2007

Caio Lucas
Enviado por Caio Lucas em 22/02/2007
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