Senhor Argemiro e a esteira
O senhor Argemiro já estava perto dos oitenta. Ia para a academia todo santo dia, fazia musculação, conversava sobre futebol com os jovens, e sobre maquiagem com as moças-alegre, descontraído, blusão amarrado no pescoço, eu sou o que sou, não me deixo desmoronar, não senhor, nem pensar, a vida é bela, uso computador, celular, tudo o que é moderno, uso tudo, tudo, sou da atualidade meninos, da atualidade. Tá certo, um pouco de exagero havia, a sua conversa cansava, ele falava muito os jovens saiam de mansinho, as moças se entreolhavam com malícia, seu Argemiro nem percebia, queria ser feliz, jovem, amado, principalmente amado. Precisava urgentemente ser amado, acarinhado;em mais uma manhã foi para a academia , subiu na esteira, tropeçou e caiu. Está numa cadeira de rodas, com o joelho em pandarecos-e aí me dirão: - Muito triste? Enganaram-se !Arranjou uma enfermeira de Feira de Santana que veio para São Paulo trabalhar- ela é quieta, ele continua falando muito -assim, um ouve e o outro fala- se completaram - bendita esteira.