O casal e a discussão

O casal e a discussão.

Ela dormia quando ouviu a discussão. Primeiramente em tom abafado, quase um zumbido. E pensou ser uma abelha. O som aumentou. Tornou-se um som duro, engessado, pedrento. E ela entendeu ser o passar de um carro, caminhão talvez. O som parou por alguns instantes. Ela voltou-se para o outro lado da cama e fechou novamente os olhos. Foi nesse instante que o som partiu-se em tantos outros que ela não mais conseguia identificá-los. Sons finos, sons roucos, sons de batidas, sons que pareciam água, sons de ranger de dentes, fracos, sons exaustos. Resolveu levantar-se. Com cuidado. Com dificuldade. agarrou-se no escuro aquilo que mais prezava e caminhou pelo quarto em direção a porta. Os sons novamente se aquietaram e ela parou, aguardando, respiração intercalada com suspiros ; os sons recomeçaram, agora altos, metálicos, escorregadios, ocos, duros, rastejantes, e foi, num ímpeto de coragem que lhe subiu pela camisola e arrepiou seus braços que abriu a porta e dirigiu –se para onde vinha o barulho. À medida que avançava pelo corredor escuro, os sons se tornavam mais claros e mais claros e ela apertava seu bem contra o peito até chegar ao local de onde os sons provinham e.................... ....... eram seus pais, seus pais que discutiam asperamente e ela não podia entender o que diziam, o que significariam aquelas palavras tão desencantadas, cheias de alguma coisa podre, fétida, sentia uma zoeira na cabeça, agarrou-se ao bem querer, seus olhos viram com carência assustada a cena, os pais a olharam com surpresa ela pôde dizer: mamãe..papai. Que foi?! E nos seus quatro anos olhou o amigo,seu bem, o ursinho marrom cair de seus bracinhos magros e rolar pelo chão, desnorteado.

Vosmecê
Enviado por Vosmecê em 22/09/2012
Reeditado em 23/09/2012
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