DESTINO

Quando ele a conheceu, ela já tinha sido de outro. Apaixonada. Ele bateu, bateu, insistiu, arrumou-se com ela.

Cercava-a de cuidados, zelos e mimos. Queria dar uma volta? Ele arranjava meios para. Queria um vestido novo? Ele espichava agorinha um crediário. Queria ir a uma festa? Ele dava um jeito nos convites.

- Te amo! Dizia ele de prontidão.

- Também, ela respondia uns segundos depois, sempre pensativa.

Casaram-se por fim. Casamento feliz mas simples. Poucos amigos, muitos parentes, festa de rua sem esbanjamentos.

Viveram 10 anos. Filhos nasceram, cresceram, dois morreram ainda novinhos.

Um dia ele chegou do expediente à tardinha e encontrou as panelas já na mesa. Na porta da geladeira um envelope, dentro um recado: “Ariosvaldo passou por aqui hoje. Fui com ele” – escrito numa letra garranchada.

Ele se desesperou, ameaçou ir atrás, dar tiro, dar facada, dar parte pro delegado. Enfim não fez nada. Choramingou uns seis meses e casou com uma prima dela.

Soube depois, uns cinco anos depois, que Ariosvaldo morrera de acidente atravessando uma rua e ela, na miséria, meteu-se num prostíbulo perto do cais, onde atendia todas as noites o pessoal do descarrego das traineiras.

Um sorrizinho escorreu-lhe pela boca cheia de arroz, enquanto brincava com a colher e mexia nas coxas da Rita, a prima.

Marcos Fábio – São Luís, 22-03/02.