Dias Insanos

A janela aberta fazia com que os raios de sol invadissem o quarto, e nem os lençóis ou travesseiros eram capazes de fazer com que eu voltasse a dormir.

Levantei-me da cama me sentindo zonza. Paro em frente a porta e sinto uma tontura horrível. Minha visão fica completamente embaçada e tudo começa a ficar meio turvo, até que tudo escurece. Seguro-me nos móveis próximos a fim de me equilibrar, mas meu corpo parece não cooperar comigo. Meus braços e pernas começam a ficar dormentes. Entro em pânico. Não posso de repente ficar cega. Ou pior, será que estou morrendo? Mas em quarenta segundos tudo passa, minha visão começa a ficar normal e volto a sentir meu corpo. Ainda levo uns bons minutos pra recuperar completamente minha visão. Mas agora está tudo ok.

Arrasto-me até a cozinha e encho um copo com água. Isso é basicamente o que ando comendo, ou melhor, bebendo.

Não faço a menor idéia de que dia é hoje, ou há quantos dias não saio da minha cama. Não como mais nada, faz três dias que vivo a base de sopa e água. O que é consideravelmente melhor do que eu estava ingerindo antes.

O calendário marca dia 5 de fevereiro. Daqui a poucos dias volto a minha rotina. Trabalho, faculdade, reuniões e festas. E a única coisa que levo desse verão são dias que se passaram como borrões, ou seja, praticamente nada.

Fui a muitas festas. Conheci muitas pessoas. Beijei e me apaixonei. E então me arrependi.

Sentia-me a escória da humanidade. Um verdadeiro lixo. Aquela mulher decidida e atraente que eu era se foi dando lugar a uma chorona bêbada.

Meus dias se resumiram a beber, a fumar e a dormir desde então. Não consigo nem tomar banho, às vezes me atiro completamente molhada e cheia de sabão na cama e fico lá.

Meu travesseiro está sujo com a minha maquiagem. Foi nele que chorei nessas duas ultimas semanas. Meu lençol cheira a álcool e cigarro. E eu não quero nem me olhar no espelho. Não sei como fui chegar a este estado, mas agora que estou no fundo do poço não consigo mais voltar.

Busco meu celular e o coloco pra carregar. Tenho 107 ligações, 44 mensagens na caixa postal e 62 torpedos. Tudo dele.

Eu não fazia a menor idéia do que eu estava fazendo. Eu estava ali fugindo do amor. Eu o encontrei e sabia que era o amor da minha vida. E ao invés de abraçar esse amor eu o joguei pela janela. Tudo por medo.

Ainda me lembro das suas palavras. Seu sorriso doce. Seu olhar carinhoso.

Ele disse que me amava como nunca havia amado alguém. E disse isso com sinceridade, do fundo do coração. E então eu corri. O pavor tomou conta de mim. Ouvi seus passos logo atrás de mim, sua voz me chamando, gritando. E eu perdi o controle de mim mesma.

Eu nunca fui amada, e me deparar com esse amor real e mútuo havia me assustado.

Abri a porta para pegar os jornais que deviam estar acumulados. Foi aí que eu o vi, sentado em um banco do outro lado da rua. Ele parecia exausto e começou a caminhar em minha direção.

- Por que você fugiu? – seus olhos estavam molhados e ele mostrava muita tristeza.

- Eu senti medo. Medo de que fosse da boca pra fora. Medo de que fosse uma piada. Medo de que fosse uma mentira para que eu me entregasse como já aconteceu e eu idiota acreditei.

- Eu. Te. Amo. Se fosse da boca pra fora eu não teria te esperado. Eu não estaria aqui. Então veja, eu estou aqui. Eu te amo garota. Por você eu faço qualquer coisa. Você é o motivo de eu estar aqui. O meu destino era te encontrar e te amar, e eu não vou deixar você ir.

As lágrimas caíram pesadamente pelo meu rosto e então ele me abraçou forte. Sentia meu corpo se esvaindo, enfraquecendo. E me deixei levar pelo seu amor. Ele me pegou em seus braços e me levou pra dentro. Eu soluçava em seu colo e ele carinhosamente mexia em meu cabelo.

- Eu vou cuidar de você.

Sim, era isso que eu queria. Amor, carinho, cuidado. Coisas que nunca tive em minha vida.

Fechei meus olhos e adormeci em seus braços. Minha mente estava serena e meu coração batia tranqüilo. Pois eu sabia que quando acordasse ele estaria ali, me protegendo.