Na cachoeira Velha.
Os dois saíram correndo do bosque, que bosque não era, mas que por causa do povo assim era chamado, poucos pessoas sabiam da velha cachoeira e menos ainda a visitavam na semana, a velha cachoeira de tão velha era já esquecida pelo povo.
Passos rápidos e sorrisos contidos, sabendo do pecado que cometeram, e do preço que pagariam, segundo os sermões do padre da vila. Jovens não pensam no futuro e sem saber, estão certos.
A pequena trilha levava para uma estrada de terra vermelha, cheia de pequenas pedras que para pés não preparados seriam uma tortura, mas que para eles era apenas mais uma estrada, teriam que correr para que não fosse notada a demora enquanto ele arrumava os calções e ela ajeitava o cabelo, um de cada lado da estrada e o medo do toque, pois só havia segurança no interior da mata, e mesmo que a pequena estrada estivesse vazia, era aberta, e quem lhes garantiria que na mata não havia quem os visse.
A estrada acabava no pequeno morro, e a bifurcação não só dividia a estrada, como os dois jovens amantes, um beijo rápido e um aperto longo no peito eles compartilhavam, já era sexta-feira e só estariam juntos de novo na segunda-feira , domingo tinha a Missa, mas eram só olhares que trocavam.•.
Em algumas passadas ele já avistava o pequeno burro, chamado príncipe, e seu pai numa velha carroça, segui por toda a estrada e não te vi, onde estava menino? A ideia já estava pronta e a desculpa veio da ponta da língua como um texto decorado, que não deixava de ser, a vontade apertou e foi no mato, depois fui me lavar na velha cachoeira, sem tirar os olhos do velho burro seu pai puxou as rédeas, e disse, sobe que sua mãe fez pamonha, e eu to com fome.
A casa humilde cheirava a milho, e o fogão a lenha deixava um rastro de fumaça no céu azul e limpo sem nuvens nem vento, toda sexta-feira seu pai chegava cedo, o Sr Xico sempre dispensava pra ficar com a família, era uma forma de recompensar os 25 anos de serviço, a sexta foi preguiçosa e lenta, o sábado chegou com o galo, e logo cedo foi dar comida pras galinhas, prender os cachorros, e depois de uma infinidade de outros trabalhos miúdos, podia descansar ou sair pra vila, nesse dia quis ir pra cachoeira velha, estava quente e os bichinhos cismavam de entrar no seu ouvido, a agua gelada seria a solução, o velho burro esta lá e seu pai tinha saído, a sorte rara, com o burro chegaria bem mais rápido na cachoeira.
A cachoeira já estava perto, e ele pensava onde ia amarrar o velho burro quando de longe avistou outra carroça, essa com dois cavalos, e ela, chorando.
Na beira da velha cachoeira, embaixo de uma pedra, uma carta, que em curto texto dizia, que iria para a cidade com seu pai, e que sem saber, já estavam todos a prontos, mas pra não causar dor só disseram no dia da partida, e como ultimo desejo queria ela se despedir da cachoeira, e deixar aquela carta.
Na missa faltavam àqueles olhos, e seu sorriso seria a lembrança mais doce dos tempos de escola.
Na cachoeira velha.