solidariedade criminosa
Valeu a confiança fruto da amizade durante a infância, por muito tempo não se encontravam. Cresceram e já eram homens aparentemente com objectivos bem definidos. Surgiram mais encontros em casa e em bares que revigoraram as lembraças e a esperança de um vida feita e partilhada com um grande amigo.
Chegou com muita pressa numa tarde dessas, não deu muito tempo para conversa, pediu que lhe dessem um copo de água, estava com muita sede, fazia muito calor, todo transpirado. O amigo não estava e a esposa tratou de o servir, logo, tirou uma pasta e pediu que a guardassem que tão logo voltaria para a levar. Não havendo nada a desconfiar a senhora pegou na pasta e colocou-a no quarto dos miúdos e chamou atenção aos meninos para que não a mexessem pois era pertença de seu tio.
Passaram semanas e os miúdos irequietos cabaram mexendo a pasta e remexendo tudo no seu interio, eram tudo armas e da pesada.
Quando o dono da casa tomou conhecimento, logo que voltou do trabalho, tratou de ligar para o amigo, tendo lhe dito que com muita urgência devia passar para levar os seus pertences este, sem muitas palavras e com pouco a dizer respondeu que ele devia sair numa manhã de um sábado qualquer, seguir a estrada e a alguns kilómetros da cidade jogasse a pasta fora, em qualquer matagal ou ribeira.
Temendo pelo pior mais não podia fazer, voltando a ligar para o amigo dizendo que a distância mais curta a percorrer é ligar para a esquadra mais próxima da polícia ou dirigir-se para o local.
Disse-lhe ainda que, durante o tempo que esteve com o auscultador levantado que não poderia ser cúmplicice neste crime ou generoso com estes actos, que este “amigo” que acabara de deixar de ser não se compadecia em nada com o amigo de infância e colega de longos anos de escola.