O primeiro dia de aula do mazela novato
Fui pra a escola como todo garoto da minha idade. Era o meu primeiro dia de aula neste novo colégio. Desde o maternal só tinha estudado em uma única escola, mas este ano minha querida mamãe decidiu colocar-me num colégio mais próximo de casa, já que ela não aguentava mais receber ligações minhas dizendo que estava perdido ou havia pego o ônibus errado. Ela não entendia como uma criança de onze anos ainda se perdia no trajeto diário.
Cheguei na escola e dei bom dia para o guarda de trânsito, pro segurança, pro porteiro e todos me responderam. Quando cheguei na sala minha sala, botei a cabeça na porta e fui recepcionado com um tênis vindo da diagonal e acertou em cheio a minha testa.
Biiiiiiiiiiiiiiiiiiiin…
Cai no chão e fui levado com pressa à enfermaria e lá passaram uma pomada para diminuir o galo que tinha se formado. Voltei pra sala e só tinha uma cadeira vazia. Sentei na cadeira. Senti algo “melado” em minha calça e a sala começa a gritar:
O novato mijou na calça! O novato mijou na calça!
Ao levantar notei que um coleguinha tinha estourado, sem querer, uma caneta na minha cadeira e não deu tempo de me avisar, por isso eu sentei e me sujei.
A professora chamou o fiscal e ele me levou ao banheiro. Limpei-me mais ou menos. Retornei à sala todo cheio de tinta. Já era no final da segunda aula e o recreio estava por vir. Sentei na cadeira e não entendi porque atrás dela tinha escrito “GRÁTIS” com uma seta apontada pro meu traseiro. Até hoje não entendi o motivo, só sei que quando me sentei os coleguinhas atrás de mim ficaram o tempo todo gritando:
Taca o dedo que é nosso! Taca o dedo que é nosso!
Eu não entendi o que era o “nosso” que eles falavam até que um deles tacou o dedo. Doeu bastante. Pedi licença pra professora e fui na coordenação. Cabuetei o garoto, ele foi chamado e terminou sendo suspenso.
O recreio tocou e fui pra fila comprar meu lanche. Não entendi porque os coleguinhas entravam na minha frente sem pedir permissão. Vai ver eles eram envergonhados e por isso entravam sem cerimônia. Depois de um bom tempo comprei uma cajuína com pastel de queijo. Quando eu ia dar a primeira mordida recebi um empurrão. Cai no chão em cima da merenda. Olhei para trás e era o mal educado do coleguinha que cabuetei. Ele disse que ia me pegar na saída e falei que não precisava porque eu ia a pé pra casa…
O recreio acabou e eu ainda me limpava no banheiro. Minha camisa estava suja de cajuína e minha calça de tinta, além do galo na testa. Passei as aulas seguintes lá até que o sinal da última aula tocou e fui pro portão de saída.
Ao chegar na esquina dei de cara com o coleguinha que cabuetei e ele me acertou um chute no meu saquinho. Cai no chão de dor. Ele saiu correndo…
Cheguei em casa e contei tudo pro meu irmão mais velho e levei uma surra porque ele não admitia “ter um irmão tão mole”. Falei que não era mole e sim de carne e osso.
Mamãe chegou em casa e me viu naquele estado deplorável e me deu outra surra dizendo que não queria que eu chegasse tão sujo em casa.
***
Este foi meu primeiro dia de aula naquela escola – o início de muitas e muitas que aprontaram comigo. Só hoje entendo porque isso aconteceu… eu era mazela desde pequeno, mas não sabia que era. Fui uma criança feliz – apesar de tudo – e continuo mazelado!