O casal feliz - In contos sem data

Ana e Carlos eram felizes. Tinham dois filhos: Antonio e Rosa.Ambos adultos. Acontece,certo dia, Antonio se forma na Universidade e

resolve fazer parte da cruz-vermelha; como médico que era, seria muito útil: ajudaria os mais necessitados onde quer que fosse. Súbito, África, lá foi ele.

Pouco tempo depois, Rosa se forma: odontóloga e, ao mesmo tempo,

aparece com Rui, já seu noivo, que pretende voltar para a sua terrinha

lá nos confins de Tocantins. Bastou essa pretensão e lá se foram Rosa e Rui.

Em pouco tempo, perceberam Ana e Carlos a solidão: eram, apenas,

ambos, já velhos, experientes, maduros a cair do pé. Neste preciso instante a mulher, prestes a cair primeiro, decide ter um bichinho de estimação. Entre o decidir e o agir, bastou um piscar de olhos e já estavam com um cãozinho novinho em folha. Ana o amou, o mimou

como a um filho; satisfazia-lhe todos os latidos de pedidos imaginários;

comprava roupas para o cãozinho; jóias,coleiras de puro couro de crocodilo, enfim, o cãozinho para ela tornou-se o rei da casa.

Carlos, ao ver, cada dia, seus sapatos caríssimos roídos, comidos em partes, chinelos chiques destroçados e até mesmo dejetos espalhados pelo quarto e em seus sapatos, não gostou do novo rei da casa.

Assim, certa feita, estando a mulher ausente, pegou o reizinho e, deliberadamente, o esqueceu em uma praça distante de sua casa.A mulher chegou. Gritou pelo nome do reizinho da casa:

- Fido Didinho, onde está você ? Vem para a mãmae. Silêncio congelado se fez como parede maciça de iceberg; nenhum au-au respondeu.

Chorosa dirigiu-se ao marido, abraçou-o, dizendo:

- Perdi, mais uma vez, um ente querido.Estou sozinha,novamente.

O marido ao ouvir isto, engasgou uma resposta malcriada e deixou gotejar, ainda assim, um pouco de sua revolta venenosa:

- Au-au.

gerson chechi
Enviado por gerson chechi em 07/09/2012
Reeditado em 08/11/2012
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