ROBERTO

Roberto brincava com meus cabelos enquanto eu, com o rosto mergulhado em seu peito, buscava as palavras certas para fazer meu pedido. Tudo estava tão calmo e silencioso no nosso esconderijo que era possível ouvir o farfalhar das folhas do carvoeiro roçando na calha, alguns carros a passarem pela viela lateral e conversas indecifráveis dos vizinhos. Tudo isso juntamente com o cheiro de grãos torrados de café roubou-me a concentração por alguns segundos, tempo suficiente para ele quebrar o silencio.

- Estás com fome minha amada?

- Não querido.

No escuro em que nos encontrávamos Roberto começou a passear suas mãos no meu rosto, firmes, mas ao mesmo tempo possuidoras de uma delicadeza incontestável. Um pequeno feixe de luz escapava das cortinas cor de fuligem, constatei que se aproximava o momento de sua partida habitual. Falaria eu naquele momento ou deixaria para o próximo reencontro?

- Querido, sabes que aprecio sua cia, amo-te por completo e sou completamente tua... Quando serás só meu? Deixe tua esposa, toma-me por companheira única. Sejas só meu Roberto.