CIGANA
CIGANA
Saia longa, rústica, meio suja de poeira da estrada ressequida do sertão.
Na cabeça, um lenço amarronzado com listas brancas, meio rebeldes e mal amarradas.
Uma blusa feita de couro de lontra, cheia de trapos pendurados,
Com a frente aberta até próximo do umbigo, mostrando partes dos seios seminus,
Com um rosto trigueiro, esperto, mal intencionado e safado,
Olhos verdes em meio a um rosto cor de jambo que traz um olhar arrogante,
Uma pele sebosa, desejosa, que causa inveja nas outras mulheres e loucura nos homens.
Assim ela caminha com seu bebê pelas estradas do arraial,
Olhando a sorte e lendo as mãos dos desprotegidos de plantão.
Eles pensam que só de ser tocado pelas mãos dela já é uma grande sorte.
Seu nome: Camila. Sua identidade: nada mais do que uma mulher.
Sem nenhuma timidez, ela pede comida para si e para o bebê.
As mulheres a expulsam, pedem a ela que desapareça,
Pois ela é uma ameaça para todas que têm maridos em casa,
Ou namorados, rapazes que não aguentam tanta sedução.
Sem nenhum escrúpulo, ela volta para a estrada,
Jogando praga em todos que a rejeitaram.
Só bendiz àquelas mulheres que a aceitam e dão-lhe de comer.
Isso porque ficam com pena do bebê.
Mulher de privilegiada beleza,
De grande doçura na voz quando dirige a alguém
E que vira uma língua demoníaca quando não é atendida.
Mulher de um corpo escultural,
De uma vivacidade formidável,
De pés descalços, sem ninguém,
Só ela e seu bebê, o qual ela não sabe quem é o pai.
A única coisa que ela sabe é que de cigano ele não é filho.
Uma mulher sofrida, bonita, esperta, atraente e triste.
Uma cigana solitária que vai seduzindo homens
E destruindo famílias por onde passa.
Uma mulher criada por Deus!
Pena que ela não sabe disso!
É isso aí!
Acácio