AGENDAS

Ela se olhava no espelho. Um espelho grande, dava para ela se ver de corpo inteiro, nua. Passou a mão pelos seios, deslizou-a até a bunda e falou para a outra no espelho: “homem gosta é de carne”. Dizia isso porque não tinha um rostinho assim perfeitinho como ela via nas revistas que falavam do mundo da TV, das modelos, das atrizes novinhas e famosas. Mas tinha boa altura, tinha seios médios, tinha bumbum grande e empinado, enfim tinha carne. E ele gostava era da carne dela, o seu rostinho ele até dispensava.

Duas horas. Ela já está esperando por ele no quarto combinado. Em meia hora ele vai chegar, vai querer encontra-la nua debaixo do lençol, ele não suporta a idéia de ter que despi-la, ela já se acostumou com a sua falta de sensibilidade para esses detalhes-que-só-as-mulheres-frescas-exigem, como ele já repetiu trezentas vezes. Ela se perfuma, põe a calcinha sobre o criado-mudo e espera por ele, deitada de bruços.

Três horas. O quarto já está a meia-luz. Ele chegou e foi direto pro banheiro. Jogou o cigarro no vaso, lavou-se. Agora está nu sobre ela. Daqui a pouco ela vai arrancar-lhe um uivo lancinante, vai fazer-lhe expelir todos os líquidos, vai deixa-lo desacordado. Vai banhar-se e ir embora sem fazer barulho, até que ele acorde por si e volte ao trabalho, no fim do dia.

“Ele gosta é de carne, não de carinha de boneca”. É o que a livra de uma vida mais dura.

Marcos Fábio
Enviado por Marcos Fábio em 05/09/2012
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