Meu pai

Meu pai

Meu pai, Fabio Sárapo, era um chato.com.br. E muito, muito bravo e mal-humorado. Gritava em horas alegres e as tornava esgarçadas, a brisa se afastava contrafeita, o ar vinha em chicotadas, a comida engasgava na garganta e a raiva vermelha e espumante, empurrava tudo pelo esôfago. Ficava horas compondo música clássica ao piano, não se podia fazer barulho, implicava de repente com nos...sos vestidos ou o penteado, discutia asperamente sem motivo específico, amedrontava, sufocava o ambiente com fagulhas de raiva e temor, sempre cinzentos, sempre por acender . Hoje, na maturidade,consigo vê-lo melhor: sua ética, sua honestidade como segunda pele, seu respeito pelos pobres, seu amor pela música erudita e que nos transmitiu, pela natureza quando pintava enquanto brincávamos pelos campos de Brigadeiro Tobias, seu entusiasmo pelos bons livros que nos fez apreciar, sua consideraçao por nossas escolhas sentimentais, seu enorme amor pelo Brasil. Pouco antes de morrer, confessou querer voltar ao mundo como uma frondosa árvore que desse sombra e aconchego aos filhos. Morreu em meus braços, como viveu: atrás de seus fantasmas que corriam com desprezo e batiam em seu rosto magro, aflito e desesperançado. Hoje, vejo mais suas qualidades - agradeço a Deus por isso e rezo por ele-sempre.

Aos meus irmãos, Leyla, Marli, Sergio,Tahia e

Ana Maria, com afeto

mana Regina

Vosmecê
Enviado por Vosmecê em 04/09/2012
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