A perua e a sogra
Era uma perua intensa, poderosa, impecável dentro de seu título. Cheia de joias, de maquiagem comprada em N.York,de roupa comprada em N.York, de sapatos comprados em N.York,tudo made in China, mas ela nem ligava, nem estava interessada em saber onde ficava a China. Era meio desenfreada, afogueada, plastificada, quando sorria sentia leve contração da orelha esquerda, não tomava conhecimento desse pormenor e tinha dentro da bolsa uma lista que compunha sua felicidade: ginástica, massagem linfática,tratamento da pele com laser, chá com amigas, esperar marido,jantar em restaurante da moda com ele. Até que um dia, e um dia sempre chega,quer queiramos ou não, mesmo que os passarinhos cantem e as flores desabrochem, as abelhas voem em bandos e os marrecos façam seus ninhos com ar meio sonso, a sogra-sempre elas -cochichou no ouvido do executivo enquanto ele degustava um salmão com ervas ," que a Cremilda, Alfredo, tenha dó gasta muito, perdulária, você se mata de trabalhar e ela só delapidando a fortuna, olha meu filho,sou sua mãe,mãe sabe,mãe sabe,digo isso para o seu bem". O Alfredo então, raciocinando em meio a sobremesa de souflée de morango, houve por bem acabar com a orgia de gastos. E conversou, ou melhor, achincalhou com a pobre Cremilda" que você é uma louca, perua louca, sem critério, só quer aparecer às minhas custas, assim eu vou à falência, pode parar com isso Cremilda, etc.etc. Cremilda chorou, teve uma crise de ansiedade, emagreceu sem regime,quis fugir de casa, mas depois pensou melhor no banheiro com a jacuzzi que iria perder e...obedeceu. Alfredo lhe tirou todos os cartões de crédito e sentiu-se confortado com sua decisão. Mas, novamente a brisa mudou de itinerário e os amigos-sempre os amigos- ficaram preocupados, "afinal Alfredo, pode falar, se abrir conosco, você está com problemas financeiros, quer ajuda"; nessa hora, o executivo Alfredo sentiu-se menor que lousa sem apagador, menor que poça d´água que todo mundo pisa em dia de chuva, queiramos ou não e resolveu tudo de imediato, que não estava alí para ser criticado por amigos -nem tão amigos-como ficaria sua posição de executivo, homem de sucesso, capa de revista do mês do magazine 'Homens que deram certo e não voltam atrás" e, chamando a mãe, avisou-lhe de sua decisão e prontamente enviou-a para uma casa de repouso em Carapicuiba, avisando-a intempestiva e duramente que não mais poderia dar qualquer espécie de palpite na vida dele e que estaria iniciando uma série de exercícios linguais na tal casa de repouso, última palavra para recuperação de mulheres falantes, a saber: Lingua no céu da boca: Oh! Émesmo?, Língua para o lado direito:Cruzes! Língua para o lado esquerdo um linguajar um pouco mais atual: Uau! Ela continua treinando. Cremilda gastando. A auto-estima de Alfredo, impecável. Moral: Depois as sogras reclamam de rótulos.