A Folga - In Um conto por um conto
Acordara cansado,isto cedinho, 05:30 da matina. Não tinha vontade nenhuma de ir trabalhar naquele dia. Queria descansar, tirar um dia de folga para se divertir e quem sabe beber um pouquinho para alegrar mais a vida.Esta era a diversão e o lazer que o pouco dinheiro lhe permitia, é lógico, que a preferência era beber,pois lhe fazia tão bem.
Assim, pensando já no dia de folga, refletia ele, em como ganharia o dia sem ser descontado em folha de pagamento:
" - Posso dizer que passei o dia doente e que fiquei no hospital. Mas como dois seres distintos a conversar, o outro respondia: " - Tá, se passou o dia doente, é óbvio, que precisará apresentar atestado médico para o dia todo, e, isto é impossível, no máximo, tomará uma injeçãozinha e o mandarão de volta para o trabalho. É, isto é verdade, mas posso dizer que o meu filho está doente e que passei o dia no hospital. Só um detalhe: você não tem filho. Droga, posso dizer que...minha mãe morreu.Tá,mas precisa apresentar atestado de óbito.Refletindo assim,vorazmente,perseverante, sentiu um ploc nos miolos e surpreendeu-se.Sabe como é, ferramenta sem uso, quando se usa dá um trabalho danado e a dele há muito estava empoeirada, enferrujada, com teias de aranha.
Mas a surpresa não o fez desistir,e, neste mesmo ploc, veio-lhe a ideia
salvadora: Doar sangue. Dizem que quem doa sangue, ganha atestado para o dia inteiro. E, pensando assim, saltou da cama, vestiu-se e correndo saiu rumo ao hospital mais próximo.
Ao chegar lá, fez a ficha e, imediatamente, foi conduzido à sala onde se faz a doação. Pensou ele: " - Apenas, uma ampola e, rapidinho,
estou fora daqui, com atestado, para aproveitar o dia de folga".
Acomodou-se na poltrona,que antes parecia uma cama; estendeu os braços, sentiu a picada da agulha e lá ficou.
Pouco depois, aparece a enfermeira com um suco e lanche para ele.
Retira do braço a agulha e pede, delicadamente, que ele tome o suco e coma o lanche: três bolachinhas salgadas.Ele, mais do que depressa, obedece e, ao levantar-se ajoelhou-se, sente o mundo girar, estende
os braços procurando apoio. Não o acha e estende logo o corpo todo no chão com os braços abertos em cruz.Isto causa um alvoroço nas enfermeiras; tentam levanta-lo,e,de repente, ouve-se um grito.
- Tonhão, vem cá depressa. Surge o Tonhão, que facilmente o levanta nos braços,e caminhando rumo a um quarto , como se fosse o esposo carregando a amada para a noite de núpcias, dirigiu-se a uma
sala isolada. Ele tenta abrir os olhos e ao abri-los aterroriza-se ao ver
aquele armário 2 por 2, rosto másculo, retinto azul, com um sorriso branco a trovejar para ele:
- Ah, coitada. Mas não se preocupe , florzinha, pois esta reação é comum em pessoas como você.
Ele tenta reagir, protestar, tremer, mas nem isto conseguia. Estava sem forças e num rápido olhar para trás, percebeu que a doação de sangue não era feito em ampolas, mas sim em sacos...Aos sacos.
Pior ainda, era ser carregado no colo pelo Tonhão; pior mais ainda é estar sendo levado para cama rumo a uma sala desconhecida.
Lutou bravamente consigo mesmo para não perder os sentidos, mas
os olhos teimavam em fechar e seu último pensamento foi para o
Tonhão.
- Como deve ser grande aquilo. Ai, meu Deus. Proteja-me.