CONHECI BENÉ...
Sei que neste mundo,
Nem tudo é assim tão perfeito...
Afinal este mundo é um mundo louco,
Onde de tudo se vê um pouco...
E o que não há, dá-se um jeito!
Foi daí então, que conheci Bené,
E seu semblante eterno...
Um matuto que não usava boné,
Um sujeito barroco...
Para os tempos modernos,
Um distinto caboclo!
De pele cafuza, narinas abertas,
De olhos avermelhejados...
Cabelos do naipe Black Power,
Seu cavanhaque lembrava Raul...
E seu bigode, era estilo Charles Chaplin!
Ser mestre-sala era seu maior requisito,
E ter como porta-bandeira
A lealdade de sua companheira...
Mas o problema,
Que Bené era um sujeito muito esquisito!
Todos os dias de feira, Bené descia a ladeira
Atravancado no dorso de sua égua...
Bené arrumava tudo da sua maneira,
Nos punhos enlaçava o arreio...
Homem de coragem
Que não tinha medo do alheio!
Na primeira abordagem,
Bené solicitava ao vendeiro:
Seu moço não bote o copo pelo meio...
Encha a taça e passe a régua!
Bené era um tremendo figurão
Que só trajava a caráter...
Jamais tirava seu cinturão,
Sua fivela era tão grande...
Que mais parecia, um enorme coração!
Seu casaco aveludado,
Era todo decorado com as cores do congado...
Sua gravata era do tipo borboleta,
No pescoço um cordão com seu bordão:
“seja feio, mas seja bão!”
Sua calça de linho listrada,
Era um tipo assim, cor sim e cor não...
Suas barras tinham boca de sino,
Costume que Bené trazia
Desde os tempos de menino!
Nos pés, Bené não usava botina,
Pois dizia que assustava as meninas...
Seu sapato era cavalo de aço,
Para melhor marcar o compasso
De seus viageiros, e incessantes passos!
Foi assim que conheci Bené,
Um consecutivo sujeito...
Mas como neste mundo nem tudo é perfeito,
Até mesmo Bené com a ausência da beleza,
Não morreu de tristeza, deu-se seu jeito!
Jun-1997
Autor: Valter Pio dos Santos