Mãe só faz a gente pagar mico
Hoje em dia sou professor e pai. Analiso bastante e até entendo, mas isso não quer dizer que não cometerei os mesmos erros. Mas sempre vale a penas lembrar.
Eu acho que tinha onze ou doze anos e deveria estar na sexta série da Escola Estadual Cidade de Barretos, localizada no litoral paulista, Praia Grande.
Minha Vó Naza (Nazarita) havia cozinhado uns cheirosos pães de batata doce e eu estava com vontade de prová-los, porém era chegada a hora de ir á escola e não daria tempo de comer os tais dos pães quentinhos saídos do forno.
Gentil e inocente como só uma mãe ou vó pode ser ela disse:
- Não fique triste, se você quiser eu levo para você lá na sua escola.
Como um raio da morte estelar, um flashback atingiu minha cabeça: Estávamos em plena aula a todo valor e o professor falando, de repente alguém bate à porta. Era a mãe do Ricardo (meu melhor amigo). Ela sorri na porta e com um saquinho de papel marrom salpicado por manchas de óleo ela diz meigamente:
- Ricardo... Você esqueceu seu lanche e eu vim trazer.- O Ricardo levou com cara de assassino, pegou o lanche da mão da mãe quase num safanão e caminhou morrendo de vergonha para seu lugar. Antes de sentar ainda ouvimos um colega melhorando a situação gritando lá do fundo da sala:
- É pão com ovo... – Mas tudo bem...O Ricardo sobreviveu (acho).
Então olhei para o forno e para minha avó e gentilmente afirmei:
- Não precisa se preocupar,vó. Eu nem gosto muito de pão. Quando eu voltar eu como.
É claro que ela insistiu e minha mãe, não sei se para me sacanear ou se para me alimentar incentivava minha avó. Mico em dose dupla.
Graças a Deus escapei, mas mesmo assim penso em me vingar dos netos dela e um dia levo pão com ovo pro Jonatinhas ou para a Ana Júlia (meus filhos) na escola. Como eles ainda tem um e sete anos terei que esperar ainda alguns anos para concretizar minha vingança.