A escolha

Aparentemente aquele dia seria apenas mais um de tantos outros, mas aquela menina não sabia que para ela, seria diferente. Naquele dia ela tomaria uma decisão que a acompanharia por ali em diante, decisão esta que não seria fácil de realizá-la, mas seria a escolha dela e assim sendo teria que carregá-la e suportá-la em seus ombros.

Era uma manhã de sexta-feira - comum-, ela havia se levantado e já estava realizando a sua caminhada matinal, sabia que teria de ir ao colégio, então não ousou demorar muito. No caminho de volta para casa, viu as mesmas cenas de sempre, porém, hoje as observou sob um olhar diferente. Aquela menina acabara de perceber que todo esse tempo só tivera olhos para si própria, e esquecera que existe um mundo a ser explorado. Ela percebeu que o egoísmo e o egocentrismo havia habitação fixa em seu ser, mas logo ela que prezava as boas ações, esquecera de realizá-las.

Ela estava paralisada em meio a todo aquele caos e turbilhões de pensamentos invadiram sua mente. Ela estava a observar um mundo que antes havia se recusado a enxergar, ela estava presa em seu próprio mundo, estava atada a pensamentos e atitudes pequenas perante do que poderia realizar, presa a este sistema que manipula a quem não têm seus próprios ideais. Ela vivia conforme ao que a sociedade denominava “normal”. E não seria “normal” ter preocupação com os demais, ajudar ao próximo. A sociedade preza o individualismo, e assim ela havia aprendido, assim ela vinha vivendo.

Ela já havia perdido a hora para ir ao colégio, então resolveu continuar caminhando. Aquela menina que havia saído de casa mais cedo, jamais seria a mesma, não se deixaria mais ser dominada pelo sistema, ela sabia que não seria fácil, mas sentada à beira da praia, ousou gritar para quem quisesse ouvir:

- Não serei apenas mais uma de vocês, que segue e obedece lealmente a este sistema que escraviza, que humilha a quem não se adéqua a ele. Um sistema que não valoriza quem tem seus próprios ideais. Não serei apenas mais uma.

Quando havia terminado de falar, reparou que todos a sua volta estavam a observando, a olhavam como quem diz "– É só mais uma criança, não sabe o que diz." Mas ela estava ciente do que havia dito e feito, e não estava disposta a voltar atrás.

Ela sabia que tinha que voltar para casa, embora não quisesse, mas assim o fez. Em meio a tantos olhares que a cercava, ela se levantou e caminhou em direção da sua casa.

Voltando para sua casa, passou a observar tudo com outros olhos, viu detalhes minuciosos, observou o que antes seus olhos estavam fechados a ver. Ela estava a se sentir mais leve, mas ao mesmo tempo estava sentindo um peso tão grande em seus ombros. Estava a se sentir mais leve, por ter sido capaz de desatar um dos nós que a atava. E sentia-se com este peso, por saber que a escolha que tivera feito, faria parte da sua vida por agora à diante.

Ao chegar a casa, reparou que a mesma estava vazia, seus pais já haviam ido trabalhar então não se precisaria se preocupar em dá explicações e foi direto tomar banho.

Ao sair do banho, sentia-se como se houvesse lavado a alma, estava a se sentir mais leve, se dependesse dela, ficaria debaixo daquele chuveiro por horas, na tentativa de que a água pudesse levar todo resquício daquela manhã que ainda restara nela. Ela sabia que esta não seria uma tarefa fácil, não poderia ter mudado tanto em tão pouco tempo, mas tinha certeza, que por mínima que tivesse sido a mudança, ela havia ocorrido, ela podia sentir.

Logo após, ela desceu para sala, na tentativa de assistir um pouco de televisão e esquecer o que havia ocorrido mais cedo, mas não conseguiu. O noticiário da TV a mostrar a cruel realidade que a cerca, a fez entender que não daria para esquecer.

A menina então ficou ali dispersa em seus pensamentos, quando ouviu o barulho das chaves a abrir a porta, sua mãe acabara de chegar.

- Oi mãe.

- Oi minha filha, como foi no colégio?

- Eu não fui ao colégio hoje.

- Posso saber o motivo de não ter ido?

- Acabei perdendo a hora, prolonguei demais minha caminhada.

- Não faça mais isso, sabes que tem responsabilidades a cumprir.

- Tudo bem mãe.

- Qualquer coisa, estarei em meu quarto.

- Certo.

Assim que a mãe acabara de subir as escadas, ela se perdeu novamente em seus pensamentos, embora quisesse entende-los, ainda não conseguira. Estavam muito confusos, assim como ela também se encontrava.

As horas custavam a passam e ela acabou adormecendo ali mesmo na sala, e só acordou quando seu pai chegou e deu-lhe um beijo na testa e falou:

- Acorda meu bem.

- Oi pai, como foi no trabalho?

- Tudo bem minha filha. Vou subir e depois conversamos mais.

Ela apenas assentiu com a cabeça. Já estava chegando à noite, então ela resolveu subir para seu quarto, para tomar banho e descer para jantar. Mas antes o telefone tocou, e ela foi atender.

- Alô?

- Oi. Por que você não foi ao colégio hoje? Está tudo bem?

- Calma Sam, está tudo bem, só fui caminhar como sempre faço e acabei perdendo a hora.

- Fiquei preocupada.

- Não fique, Sam amanhã conversamos no colégio, estava indo para o banho, para descer e jantar.

-Ah sim, tudo bem. Até amanhã e vê se não se atrasa. – Ela sorrir.

Tudo bem, não me atrasarei.

Ela desliga o telefone e segue em direção ao quarto. Chegando lá foi direto para o banho, não se demorou e logo desceu. O jantar já estava posto, ela sentou-se a mesa e jantou calada. Logo após se retirou e dando um beijo em seus pais, apenas disse que os amava.

Beijando-lhe a testa, disseram que também a amava. Assim ela subiu ao seu quarto e deitou-se, não demorou muito a dormir, pois estava cansada, o dia havia sido cheio de fortes emoções.

Aquela menina que dormia serenamente, não sabia que a sua escolha mudaria o seu modo de viver. Dorme menina, tens uma longa história a escrever e um caminho longo a seguir.

Scva
Enviado por Scva em 22/08/2012
Reeditado em 22/08/2012
Código do texto: T3843288
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