Um dia para chamar de seu

Deixou que o sol da manhã fizesse seu trabalho voluntário de bronzeá-la enquanto esticava-se, indolente, observando o mar.

O céu claro e límpido desafiava a estação. Alguns banhistas, desavisados e iludidos, iam ao encontro das ondas para saírem pulando, logo em seguida, quase encolhidos pelo susto de constatar que era inverno. Achou graça e aquele prenúncio de riso pareceu sacudir a friagem que tinha se instalado dentro de si mais cedo.

Sentiu-se confortável com o fato de, apesar de estar rodeada, não ter a obrigação de dirigir-se a ninguém em particular, o maior benefício daquela solidão desejada. Aquele burburinho não conseguia sobrepor-se aos próprios pensamentos que, livres e vivos, gritavam por atenção.

Concentrou-se naquela agitação íntima por algum tempo, ordenando, classificando e, por fim, achando que um dia maravilhoso não deveria ser desperdiçado com pesos desnecessários.

O celular tocou, mas foi ignorado sem piedade. Era tão raro conseguir um momento só seu que não queria estragá-lo por nada. Percebeu a quanto tempo não se dava ao direito de nem ao menos ser egoísta. Prendeu melhor os cabelos para sentir o vento no rosto. Decidiu que ali ficaria até que seu desejo de liberdade fosse saciado. Por enquanto tudo o que queria era apenas ser.