VINGANÇA COM ALFACE

VINGANÇA COM ALFACE

Lembram, daquelas duas dentro do ônibus? As línguas soltas, matracas, faladeiras, fofoqueiras... sim senhores! As mesmas que me atazanaram um dia destes. Não mudaram nada; uma é obesa (para não dizer gorda), mais de vinte e menos de trinta anos; loira falsa, de pele branca descascada. A outra, ainda raquítica, de aparência desleixada, já passada dos quarenta anos, ainda morena cinza...

Pois as encontrei de novo!

Na volta do trabalho para casa. Pleno horário de pique, às 18:18 h, coincidência dos números à parte, com as matracas nada de coincidir!

Ônibus superlotado! Se você solta o ar dos pulmões não consegue enchê-lo novamente; o corpo dos passageiros te comprime que nem os pulmões voltam ao normal.

As faladeiras estão sentadas, para o cúmulo do meu azar, justamente do meu lado. Não tem como mudar de lugar; se você tira o pé do assoalho do ônibus fica com ele no ar, não tem como colocá-lo de volta.

Mal saímos do terminal, a afro quarentona, naquele seu timbre de praxe, de fazer doer os tímpanos de qualquer um, começa:

- Sabe amiga, comprei uma calça tão justa que dá para sentir as veias da bunda pulsando.

E gargalhou tão alto que até o motorista se assustou. A direção tremeu e o ônibus balançou para lá e para cá.

A gorducha, também na maior altura de voz, quer saber sobre a compra:

- Quanto custou? Não vai me dizer que você comprou no camelódromo! Quem compra lá é pobre!

Também dá uma sonora gargalhada, que o resto dos passageiros do ônibus silenciou. Podia-se ouvir o tic tac de um marca passo do coração de alguém.

Mas minha alegria, ou melhor, de todos ali, durou pouco. A magrela, em alto e bom som, explicou a compra:

- Que isso amiga! Parece até que você não me conhece! Comprei lá na butique mais chique do setor sul.

- Qual?

Aqui ambas dão gargalhadas, como que para zombar do resto do mundo. E conseguiram.

A gastadora compulsória nem responde onde comprou, como se não tivesse importância, como de fato não tem. Mas para chamar a atenção, com toda ênfase que lhe é possível e peculiar, continuou:

- Paguei, ou melhor, vou pagar R$300,00 (trezentos reais), em três vezes, a primeira prestação depois da Independência do Brasil.

Vinguei-me! Dei uma escandalosa gargalhada; acho que a única desta magnitude, em toda minha vida!

Condoeram-se. Olharam-me como que fossem me trucidar; e a loira falsa não se fez de rogada:

- Está rindo de quê velhote?

Ainda galhofando expliquei:

- Da butique que vendeu para receber após a Independência.

Desta vez foi a mirradinha, cor de cinza, que me interpelou:

- O quê tem demais?

Não fui nada delicado, pelo contrário:

- Estou rindo da burrice de quem vendeu. Pois o Brasil está tentando ser independente desde 7 de setembro de 1822. E da burrice de quem comprou, pois uma calça como esta, lá na feira perto de minha casa, você compra um pé de alface e ganha uma de brinde!

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 22/08/2012
Código do texto: T3842866
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