Sons da minha infância
O ano 1968 na minha velha casa, naquela nossa rua, quando se é criança
tudo é novidade, é só alegria: brincadeiras pique esconde, e um velho pneu descendo a rua. Os sonhos são tão simples, parece sempre possível, a primeira namorada, os melhores amigos, a bicicleta tão esperada.
Do meu quarto ouço barulho distante, o trem ao passar pela antiga estação me anuncia que tudo está tranquilo como antes, me sinto seguro.
O tléc!tléc!...lá vem o bijuzeiro assanhando a criançada, e o homem sujo e feio chamado de carvoeiro, com seu triste burro trazendo combustível para antigos fogões. No domingo a corneta no alto do circo tocando "I tears Gos By" dos ( Rolling Stones) anuncia a atração da noite "Nha Barbina" e o palhaço "Arrelia" me recordo da banda tocando no ensaio "O milionário" dos "Incríveis" numa travessa da nossa rua.
Na mesma tarde no largo da igreja, os sinos tocam a chamar minha avó
para seu imperdível compromisso.
Quando chegava o mes de junho, que saudade me da ao recordar que o ceu ficava pintado, repleto de balões de varias formas, cores e tamanhos: o Zeppelin, estrela, charuto e tantos mais, tudo isso já acompanhado das tradicionais festas juninas dedicadas aos vários santos católicos.
Nos dias anteriores ao dia de "Ramos" a rua toda se reunia com algum
representante das paroquias e como já era tradição enfeitava-mos toda nossa rua para prossição; que eu todo feliz seguia do começo ao fim por quilômetros, agarrado ao braço de minha avó, com a parafina da vela as vezes caindo sobre minha mão, ou um outro garoto descuidado a queimar o traseiro da senhora a nossa frente.
Em dezembro, próximo do natal nas praças das igrejas, como também nas moradias, os presépios encantavam todos que por ali passavam! inclusive um enorme,todo com movimentos mecânicos que a cada ano era montado e visitado por centenas de pessoas, em uma das casas bem no final da nossa rua.
O nosso Grupo Escolar conhecido carinhosamente como "Grupão" pois era bem alto, pelo menos é a visão que se tem quando se é pequeno. O armazém da esquina, do senhor João e da dona Ondina, onde meu pai como tantos usava a famosa caderneta, para pagamento no final do mês; sons e imagens da minha infância nunca os esquecerei!.. Depois a gente cresce, vira gente seria pensa que sabe de tudo, perde aquela doce magia de enxergar a beleza na simplicidade das coisas.
Por tudo isso e pensando nisso, me sinto feliz! pois ainda admiro e me encanto com a vida, as pessoas, e os "Sons da Minha Infância" ainda ecoam dentro da mim.
Pier -24/11/01 21:40hs