Despedida - by-Caio Lucas

Parte XXIX

(do livro ''Partes da minha vida'')

Não gosto das despedidas, a pior hora de tudo, nossos encontros ficavam sempre bem até a hora de ir embora.

Pego seu rosto e trago pra junto do meu, aliso devagar sua pele e fico ali por um tempo sentindo seu cheiro, misturo as mechas do seu cabelo e tento não pensar em mais nada.

Corro meus dedos pela sua sobrancelha, alinho alguns fios, ela continua em silêncio, e eu falando sozinho com meus pensamentos.

Encosto meu rosto e espero uma resposta, nada, ela parece também voar junto com minha indignação, detestamos o tempo, pelo menos nesta hora.

Ali os dois em pé, os corpos bem eretos, como se pronto para tudo, menos para partir, não sei me despedir, não em uma situação como esta, não consigo dizer até outro dia, até um dia, até depois, não sei como vou conseguir ficar longe dela.

Então continuo ali parado e sem saber o que fazer, mesmo quando encosto meus lábios nos dela, um delicioso sabor invade minha boca, um perfume de amor passa perto, fico mais inclinado a pedir mais uns instantes.

Espero o convite para ficar mais uma hora, mais cinco minutos, não posso, tenho que partir, é hora de ir para a vida de antes, é quando a paixão toma forma de tragédia ou até de um desastre atômico.

Desta vez não fizemos nenhuma promessa, ainda de rostos colados, lembro lugares, pessoas, fotos, carinhos, beijos, como aquele naquele dia, perto daquilo, que delícia, lembra aquele prato, o teatro, o cinema, continuava eu ali pensando sobre todos os acontecimentos que só nós dois sabíamos.

Mas a verdade vem à tona, tenho que sair e vou devagar, um passo de cada vez.

Sou uma pessoa comum, daqueles que acordam de madrugada e faz amor, pede um carinho nas horas mais impróprias ou me concentro em planos e em coisas que vamos fazer daqui anos, posso e às vezes me sinto muito chato, mas um chato carinhoso.

Minhas mãos ainda alisam seus cabelos agora um pouco mais distantes, nenhuma palavra mais, o portão ainda fechado, seus olhos não tem o mesmo brilho de antes, daqueles instantes prazerosos, parece que todo aquele amor não foi o bastante ou nem seria bastante uma vida. Pensei em ficar mais, sem pressa de sorrir, sem pressa de fazer amor, sem pressa de viver cada pedaço que desejamos, que eu desejo do seu corpo, do seu sexo, da sua gula de amar ou minha, dos prazeres loucos que achei que por anos nos deixaria mais perto da felicidade.

O táxi pára na frente do portão, o relógio começa a contar as horas sem ela.

Ainda de roupão desce até a escada de entrada, sua mão está fria, o silêncio me maltrata, não encontro palavras, beijo seus lábios devagar, um carinho mais demorado, é para durar um sempre, até um dia, até quando a felicidade durar no meu coração.

Antes de entrar no táxi olho mais uma vez e não acenamos, apenas nos olhamos, eu, o jeito dela me olhar partindo e ela o jeito de eu partir, sem palavras, sem promessas, sem datas, sem ao menos um telefone para ligar, é um outro mundo, um mundo de silêncio total.

Quem sabe um dia destes voltamos a nos encontrarmos em algum lugar e voltamos a nos dizer sim...

16/02/2007

Caio Lucas
Enviado por Caio Lucas em 16/02/2007
Código do texto: T383883
Classificação de conteúdo: seguro