Suspiro de Vida

Será que morri?

Sinto-me tão morto quanto um cadáver de três dias.

César caminhava taciturno rumo ao trabalho de todos os dias,já não lhe agradava a labuta da sala de aula,eram sempre os mesmos problemas e ele já não tinha a disposição de outros tempos.Olhou para os lados e notou que a tarde estava sublime,as pessoas caminhavam mansas,felizes e tão humanas,que chegava a ser insuportável observá-las.Ele sentia-se morto no meio delas,seu corpo estava tão cansado que mal conseguia caminhar direito,certas vezes parou para respirar,doía-lhe tudo;precisava de férias longas e quem sabe eternas.César costumava ser alegre e bem disposto,mas desde que sua esposa morreu,ele tornou-se um homem recluso,triste e insatisfeito,em parte por sentir-se culpado pela morte dela,afinal,foi ele quem pediu um filho,um menino,a quem ele pudesse ensinar as coisas da vida.Mas,quando ela estava prestes a dar a luz,teve complicações graves que a levaram a morte,e também ao feto,se chamaria Miguel,em homenagem ao seu avô materno.César morreu um pouco com eles,seu peito ainda carregava uma mágoa sentida uma dor forte que o fazia chorar escondido no pequeno banheiro da sala dos professores.Ele chorava,chorava como uma criança e não tinha ninguém que pudesse consolá-lo,nem com palavras,nem com gestos.Era um homem só,tão só quanto triste,sua alma era vazia e não havia quem ou o que a completasse,nem mesmo as lembranças de felicidade que ainda brincavam em sua memória.

César finalmente chegou,entrou pelo portão da garagem,cabeça baixa olhos fundos,como sempre.Andou a passos largos para chegar ao portão principal,mas não chegou,algo o interrompeu,ou melhor, alguém,uma mulher que ele nunca havia visto,pelo menos não ali,talvez em seus sonhos,mas não ali.Ele a olhou,seus olhos ganharam um brilho tão sublime quanto o da tarde que se desenrolava no lado de fora,ela pediu desculpas por ficar em seu caminho,era uma moça,uma moça de mais ou menos trinta ou quarenta anos,não dava para saber assim,de susto.Ele sorriu desculpando-a,ela retribuiu o sorriso um pouco tímida,ele não parava de olhá-la e ela sentia-se despida diante dele.Ela resolveu sair,deixá-lo,e fez,saiu correndo ou quase,ele virou-se para vê-la ela havia sumido na brisa da tarde.César nunca mais esqueceu-se daquele rostinho,tão bonito,tão dócil,lembrava-lhe o rosto de Ana,sua esposa,a quem ele amou tanto.Talvez tenha sido ela que a mandou,para consolá-lo,para fazê-lo feliz ao menos naquela tarde.Nunca soube,contentou-se com o suspiro de vida que aquele momento lhe trouxe.

Carol S Antunes
Enviado por Carol S Antunes em 17/08/2012
Código do texto: T3835761
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