Ruínas - Parte I
Sentaram lado a lado "comemorando" a demissão.
O mais velho,com ar experiente,não pelos anos a mais e sim pela vivência,olhava o prédio fronteiriço com desdém.
-Olhe bem pra ele Maurício:é a soma da nossa decadência.
-Ruína é eu não pagar minhas contas no final do mês,isso é ruína.Quem diria uma empresa tão sólida...
-Aparências,meu caro.Dizem que um dos sócios estava desviando dinheiro.
-Hum...Preciso procurar outro emprego.
-Tsc,tsc.Com essa cara de doente? (Bateu com força nas costas do moço magro que estava ao lado dele).
Despediram-se com tapinhas nas costas.
O mais moço chegando em casa encontra a mulher chorosa.
-O que você tem Rosa?
-Estou tão cansada...
-Cansada de quê?
-Como de quê?(Estava alterada.Passeando por toda a sala,gesticulando,falava alto;berrava...Ele odiava isso.)
-Dá pra falar mais baixo?Tenha um pouco de educação,por favor.
-Educação?Você vem me falar de educação?Cadê a comida no prato?A roupa pra vestir?Olhe pra mim(disse aquilo pegando a cara dele com força,obrigando-o a olhar pra ela)esta vendo minhas rugas de preocupação?Olhe pro seu filho mirrado,ventre crescido,estendendo as mãos procurando comida.Tem certeza que devemos falar de educação?
Os olhos dele estavam aflitos olhando pra aquele ser desafiador a sua frente,sentia-se ínfimo perto dela,asqueroso,infame;desempregado.
Uma mãozinha delicada desferiu o último golpe em seu coração.
-Pai!Estou com fome - Exclamou o pequeno puxando-lhe a calça rota.
Pegou o filhinho no colo,acariciou-lhe os cabelos.Deu o dedo pra que ele chupasse.Os armários estavam vazios,a geladeira...Enfim qualquer reserva estava finda,até por que não havia reserva.Estava tonto de fome,chamou a mulher pra perto de si...Choraram,compartilharam aquele momento de dor,ali juntos,calados...Havia um ser no mundo que dependia deles,não poderiam falhar.
Depois do pequeno adormecer,chamou a mulher a um canto.
-Fui despedido.A empreiteira faliu.
Desabou sem sentidos no chão.Estava morta.Uma morte moral e não física.
Em alguns momentos a miséria nos visita de uma forma aparentemente irreversível...Muita pena do Maurício e dos acontecimentos posteriores...