DO OUTRO LADO DA RUA (18) – SINHÁ MARIA DAS GRAÇAS
Após seu ritual de benzimento, dona Chiquinha e eu sentamos na cozinha. Saboreando seu café fresquinho feito no fogão de lenha, iniciamos aquele papo que pra mim é um relex, é sempre a extensão de meu equilíbrio, para a maior produtividade de meu dia.
A boa velhinha está animada, até parece que foi ela quem recebeu o benzimento, inicia a história de hoje com um grande sorriso no rosto simpático, envelhecido pelo tempo.
A história de hoje fala de uma pessoa que ela adorava e enquanto fala sua fisionomia se ilumina, sua querida madrinha sinhá Maria das Graças. Era uma senhora muito bonita, tinha a pele suave como pêssego maduro, cabelos sedosos cor de palha, meiga e delicada feito boneca de porcelana. Sinhá Maria das Graças era filha de um coronel da marinha que residia em cidade próxima da fazenda Engenho Novo.
Não era nada fácil ser mulher naquela época, enfrentando preconceitos e tabus. As moças eram ensinadas para satisfazerem ao pai e depois ao marido; além de receberem uma educação dirigida somente para os afazeres domésticos. O estudo da classe feminina era bem diferente dos homens, o aprendizado delas limitava-se ao mínimo. As mulheres que queriam aprender algo mais, como: latim, música, etc. eram mandadas para o convento, às demais cabia o que interessava no funcionamento do lar: ler, escrever, contar, cozer e bordar. Além disso, elas eram somente procriadora; casava-se na mais tenra idade, ou, após a primeira menstruação, menina ainda; como nada faziam, além de ser uma parideira, engordavam feito matronas!
As moças podiam ser distinguidas através de seus trajes; as mais abastadas usavam sedas, veludos, filós e musselina, classe a qual pertencia sinhá, que estudara em convento na capital. Apenas entre as classes mais abastadas havia casamento convencional, que mantinha intacto o patrimônio da família e assegurava a proteção das filhas, após deixarem a casa paterna. Fora dessa minoria, ninguém se casava, homens e mulheres viviam amasiados. Sinhá, casou-se com o coronel Porfírio em casamento convencional, quando tinha apenas 14 anos de idade, como mandava o Estado e a Igreja. Engraçou-se dele assim que o viu, ela casou por amor com aquele coronel bonitão em seus 30 anos de idade, ele também a quis assim que a viu, desembarcando no navio que aportara na cidade.
Sinhá Maria das Graças, era a pessoa mais humana e mais caridosa que havia por aquelas bandas, era muito religiosa, boa esposa, boa mãe, boa para todos que necessitassem, distribuía roupas e alimentos para os escravos ou quem a viesse procurar, socorria a todos que precisassem nas fazendas vizinhas.
Existia algumas pessoas doentes marginalizadas nas redondezas da fazenda, todos sabiam que não era para se aproximar, pois eram leprosos que ali viviam, doença que naquela época não existia cura. Certa ocasião um dos escravos mais eficiente da fazenda, adquiriu a doença porque se envolveu com uma das mulheres daquele local. Sinhá, em sua magnânima bondade, não deixou de cuidar com ervas e unguentos daquele que fora seu ajudante mais dedicado.
Não passou mais que um mês, ela mesma adquiriu a doença, ela que tinha dois filhos ainda pequenos para criar, sinhozinho Ferdinando e sinhazinha Esmeralda.
Aquela que foi amada e soube amar a todos que dela se aproximou, sofreu por vários anos de um mal que dizimou muita gente até o século passado, morreu a mulher menina em seus 25 anos de idade, morreu Sinhá Maria das Graças, madrinha de dona Chiquinha, e quem sabe esteja hoje brilhando no céu, distribuindo seu brilho como anjo escolhido por Deus, por seus feitos aqui na terra.
Encerra-se assim, uma das mais emocionante história, contada por minha doce velhinha da casa de fundos, do outro lado da rua.
Saio dali pensando que, há alguns anos existe a cura para esta doença que foi tão terrível no passado, que hoje em dia leva o nome de Hanseníase, uma bactéria mais conhecida como Bacilo de Hansen, em homenagem ao seu descobridor, o cientista norueguês Gehard Amauer Hansen.
Após seu ritual de benzimento, dona Chiquinha e eu sentamos na cozinha. Saboreando seu café fresquinho feito no fogão de lenha, iniciamos aquele papo que pra mim é um relex, é sempre a extensão de meu equilíbrio, para a maior produtividade de meu dia.
A boa velhinha está animada, até parece que foi ela quem recebeu o benzimento, inicia a história de hoje com um grande sorriso no rosto simpático, envelhecido pelo tempo.
A história de hoje fala de uma pessoa que ela adorava e enquanto fala sua fisionomia se ilumina, sua querida madrinha sinhá Maria das Graças. Era uma senhora muito bonita, tinha a pele suave como pêssego maduro, cabelos sedosos cor de palha, meiga e delicada feito boneca de porcelana. Sinhá Maria das Graças era filha de um coronel da marinha que residia em cidade próxima da fazenda Engenho Novo.
Não era nada fácil ser mulher naquela época, enfrentando preconceitos e tabus. As moças eram ensinadas para satisfazerem ao pai e depois ao marido; além de receberem uma educação dirigida somente para os afazeres domésticos. O estudo da classe feminina era bem diferente dos homens, o aprendizado delas limitava-se ao mínimo. As mulheres que queriam aprender algo mais, como: latim, música, etc. eram mandadas para o convento, às demais cabia o que interessava no funcionamento do lar: ler, escrever, contar, cozer e bordar. Além disso, elas eram somente procriadora; casava-se na mais tenra idade, ou, após a primeira menstruação, menina ainda; como nada faziam, além de ser uma parideira, engordavam feito matronas!
As moças podiam ser distinguidas através de seus trajes; as mais abastadas usavam sedas, veludos, filós e musselina, classe a qual pertencia sinhá, que estudara em convento na capital. Apenas entre as classes mais abastadas havia casamento convencional, que mantinha intacto o patrimônio da família e assegurava a proteção das filhas, após deixarem a casa paterna. Fora dessa minoria, ninguém se casava, homens e mulheres viviam amasiados. Sinhá, casou-se com o coronel Porfírio em casamento convencional, quando tinha apenas 14 anos de idade, como mandava o Estado e a Igreja. Engraçou-se dele assim que o viu, ela casou por amor com aquele coronel bonitão em seus 30 anos de idade, ele também a quis assim que a viu, desembarcando no navio que aportara na cidade.
Sinhá Maria das Graças, era a pessoa mais humana e mais caridosa que havia por aquelas bandas, era muito religiosa, boa esposa, boa mãe, boa para todos que necessitassem, distribuía roupas e alimentos para os escravos ou quem a viesse procurar, socorria a todos que precisassem nas fazendas vizinhas.
Existia algumas pessoas doentes marginalizadas nas redondezas da fazenda, todos sabiam que não era para se aproximar, pois eram leprosos que ali viviam, doença que naquela época não existia cura. Certa ocasião um dos escravos mais eficiente da fazenda, adquiriu a doença porque se envolveu com uma das mulheres daquele local. Sinhá, em sua magnânima bondade, não deixou de cuidar com ervas e unguentos daquele que fora seu ajudante mais dedicado.
Não passou mais que um mês, ela mesma adquiriu a doença, ela que tinha dois filhos ainda pequenos para criar, sinhozinho Ferdinando e sinhazinha Esmeralda.
Aquela que foi amada e soube amar a todos que dela se aproximou, sofreu por vários anos de um mal que dizimou muita gente até o século passado, morreu a mulher menina em seus 25 anos de idade, morreu Sinhá Maria das Graças, madrinha de dona Chiquinha, e quem sabe esteja hoje brilhando no céu, distribuindo seu brilho como anjo escolhido por Deus, por seus feitos aqui na terra.
Encerra-se assim, uma das mais emocionante história, contada por minha doce velhinha da casa de fundos, do outro lado da rua.
Saio dali pensando que, há alguns anos existe a cura para esta doença que foi tão terrível no passado, que hoje em dia leva o nome de Hanseníase, uma bactéria mais conhecida como Bacilo de Hansen, em homenagem ao seu descobridor, o cientista norueguês Gehard Amauer Hansen.