A TESUDINHA DO TORIBA E O LOURINHO TARADO DO LOTAÇÃO
Aos doze anos eu era um tesão
A gostosa do rabão
Todos me taravam
Despeitados escreviam “piranha”
Aos dezessete, namorei um macumbeiro.
Só beijinhos
Aos dezenove conheci um carioca, ainda virgem, casei e engravidei.
Tive dois filhos lindos
Comecei a fazer análise e aprendi a trepar
Estudei e me formei
Psicóloga com mestrado e doutorado
Li de tudo um pouco
Viajei o mundo
Transcendi
Meus pequenos cresceram
A vida seguiu normalmente
Aos 36 anos, separei-me do pai dos meus filhos.
Não podia mais mentir
Nunca parei de pensar no adolescente lourinho do ônibus
Sempre fui aficionada por ele
Eu tinha uns treze anos quando comecei a repará-lo
Ele era belo
Lembro-me dele
Tarando-me a bunda
Encostado ao meu rabo no lotação
Sarrando-me durante o trajeto
Eu não falava nada
Descíamos do ônibus e subíamos a ladeira
Juntos
Eu rebolando na frente
Ele seguindo meu rabo infantil
Morávamos na mesma rua
Às vezes mergulhava na piscina do Toriba, um sítio de veraneio.
Nessas ocasiões, banhava-me de roupa, o tecido molhado colava ao meu corpo, deixando-me transparente de juventude.
Em algumas situações, eu encontrava os olhos azuis do lourinho tarado do lotação fitando-me, ao longe.
Lascivamente imaculados
Vivemos nesse ritual por dois anos
Não trocamos palavras
Um dia ele se mudou
A existência pode ser sorumbática
Fiquei desconsolada de saudades
Dois anos depois, nos encontramos no Castelinho, um baile da cidade.
Ele contou-me ter pulado a janela pra me beijar
Amassamo-nos bastante
Beijos explícitos de vontades
Fiquei doida de felicidade
Ele falou que ia ao banheiro e sumiu
Nunca mais o vi
Grande perda
Uns vinte anos se passaram
Hoje tenho 37
Estou há um ano solteira
A vida é engraçada
Dias atrás, andando no calçadão de Ipanema, bati de frente com ele.
Seria inverdade dizer que tremi na base
Sou psicóloga
Sei controlar sentimentos
Mas fiquei encantada de veleidades
Foi rápido, estávamos atrasados pro trabalho, só trocamos telefones.
Ele disse que ia me ligar
Continuava um pulcro
Três dias depois, meu telefone tocou.
Era ele
Conversamos nossas histórias, ele me convidou pra sair.
Fomos beber um chope
Quando saí do meu carro, vi-o em pé com um copo na mão.
Abracei-o com desejo
Ele não ficou compelido
Sentamos e arrazoamos por horas
Fui arremessada ao passado
A paixão voltou como um tapa
Contei toda minha vida
Ele contou a dele, disse estar casado.
Não sou a piranha pichada nas paredes adolescentes
Nunca fui
Entre um chope e outro, ele tentou me beijar.
Ao mesmo tempo, não me permitia e queria muito provar nossa pornografia.
Ressaltava o fescenino dentro dele
Queria ser possuída
Não nasci pra ser a outra
Sou consorte afeita a relacionamentos
Essa idolatria púbere não me fez sair dos trilhos
Tenho objetivos
Roguei isso pra ele e disse ter de acordar cedo
Malogrei as possibilidades
Despedi-me e fui embora
O sol nasceu e morreu
Eu pensava tê-lo perdido pela terceira vez
Agora, por opção.
Telefonei e perguntei se queria me ver
Concordou
Marquei no meu consultório
Tinha um plano
Mandei a recepcionista embora
Preparei-me toda
Lingerie provocativa
Gostosa
Seminua
Fiquei esperando
Quando entrou e me viu, atacou.
Fodemos como as deusas libertinas encantavam os magos devassos
Após meu terceiro orgasmo, fi-lo gozar e fui pegar uma bebida.
Ofereci
Ele bebeu
Sentei-me à sua frente, vendo-o perecer, e pensando.
Não vou envolver-me com nenhum homem casado
Babando, ele balbuciou suas últimas palavras: “Eu me separei”
Era tarde
Chorei com a certeza do fim
O adolescente lourinho do ônibus, jamais.
Traventa peçonha
Eu o matei