OBSCURA TRAVESSIA
Todos os outros que estão por aí, soltos, no mundo, são poucos, não conseguem me preencher. Não dão uma dimensão de resposta que suprem minhas necessidades. Desse modo, desisto; desisto de procurar por pessoas que me completem; elas não existem, não podem existir. Só existem pessoas que me entretém por instantes, que tentam enganar meu tempo, que me preenchem de modo incompleto. Não atingem a real substância do meu ser, não conseguem me desnudar, entrar no meu eu. Sempre existem portas as quais eu saio. Eu sempre estou exposto a outros mundos. Não consigo encontrar essa plenitude de dizer que não necessito de mais nada, pois sempre tenho espaços a serem preenchidos. Sempre tem aberturas no meu universo. Concluo essa certeza, e por isso não cobro de mais ninguém esse transbordar, mas gosto de olhar como as pessoas acham que podem preencher as outras, como se nutrem e se sustentam no outro ser e fazem tudo parecer que estar na mais perfeita harmonia (ilusões).
Eu não vou me agredir, não vou argumentar e tentar me jogar neste corredor aparente sem fim, pois acredito não ter fim. Prefiro sair a desbravar perplexidades, saio a procurar coisas, saio descobrindo o mundo e a mim mesmo e descubro, desvendo em cada nova pessoa, algo novo na minha pessoa, um sentimento que ainda não havia me ocorrido, uma sensação que eu não havia percebido. Persistem questionamentos que roubam minhas horas e, se roubam minhas horas, é porque existe ainda muito mais o que procurar e o que perfurar. Então, martelo e, quando estou muito cansado, me jogo em mim mesmo e posso chorar ou tomar qualquer coisa que não me tire dessa loucura a qual me insiro, ao contrário, quero entrar-me mais nela e sentir-me transbordando dessa nuvem que me cobre e que me fascina enquanto machuca, mas sei que preciso passar por isso para suportar o peso, a dor. Sei que se estou encarando a realidade é porque de alguma forma esse sofrimento me faz bem, ele prova que eu não me conheço e não conheço nada e não desisto de tentar entender, embora tenha muitas vezes que sorrio de mim mesmo sem saber os motivos.
Então, meu corpo cansado, só tem uma solução necessária, que é cair na cama e dormir; dormir e se puder até sonhar, ou então, despertar no dia seguinte pronto para encarar uma vida aparentemente normal, antes que o tormento advindo de qualquer coisa seja despertado e o jogo diário recomece. É quando eu olho para mim e para todos que estão ao meu redor e traço as linhas de nossos destinos, de nossas vidas. Esses acasos inúteis esgotam nossos momentos, mas precisamos, necessitamos dos acasos, pois só eles são capazes de nos segurar em pé neste aglomerado no qual estamos inseridos. É preciso que todos estejam a mercê deste destino que diz que tudo pode acontecer, não, não é destino, é acaso, mas mesmo que seja destino, na minha crença, ainda assim desconheço o desfecho da historia e na expectativa de me deparar com algo maravilhoso e imaginado por mim, percorro os trilhos dos dias e noites e rostos diferentes, que surgem a cada curva a minha frente. Eu gosto e mesmo parecendo cansado da mesmice, por ter um odor reconhecível que me garante não haver modificações, ainda assim, insisto em acreditar que pode ser desta vez que o enigma vai se quebrar. Mas têm dias que não acredito, não quero pensar em acreditar, e digo em voz alta que é tudo mentira e que tudo não passa de minhas intenções, que no fundo eu já descobri o verdadeiro novelo. Mas há outros dias que desminto tudo que descobri, pois preciso de força para caminhar e assim, enfrento os meus monstros dentro da solidão das pessoas e principalmente dentro da minha pessoa.
Leio um livro, vejo um filme e noto como o final poderia ser diferente e como eu poderia direcionar aquela historia da minha maneira, mas não adianta, pois o fim já foi traçado, não adiante lamentar a morte da mulher no trânsito, não tem mais como conter aquele terremoto que destruiu a cidade inteira e matou milhões de pessoas, pois já acabou, é tudo um passado remoto e só restam destruições e lamentações e eu não quero me lamentar, então percorro mais uma rua, mais um dia, mais uma hora, mais uma pessoa que me sorrir prometendo sei lá o “que”, e esse “que”, nos movem e me faz embarcar em mais uma viagem, nessa obscura travessia...
Obs: Publicado no livro "A Metamorfose Humana" de Valdon Nez.
Todos os outros que estão por aí, soltos, no mundo, são poucos, não conseguem me preencher. Não dão uma dimensão de resposta que suprem minhas necessidades. Desse modo, desisto; desisto de procurar por pessoas que me completem; elas não existem, não podem existir. Só existem pessoas que me entretém por instantes, que tentam enganar meu tempo, que me preenchem de modo incompleto. Não atingem a real substância do meu ser, não conseguem me desnudar, entrar no meu eu. Sempre existem portas as quais eu saio. Eu sempre estou exposto a outros mundos. Não consigo encontrar essa plenitude de dizer que não necessito de mais nada, pois sempre tenho espaços a serem preenchidos. Sempre tem aberturas no meu universo. Concluo essa certeza, e por isso não cobro de mais ninguém esse transbordar, mas gosto de olhar como as pessoas acham que podem preencher as outras, como se nutrem e se sustentam no outro ser e fazem tudo parecer que estar na mais perfeita harmonia (ilusões).
Eu não vou me agredir, não vou argumentar e tentar me jogar neste corredor aparente sem fim, pois acredito não ter fim. Prefiro sair a desbravar perplexidades, saio a procurar coisas, saio descobrindo o mundo e a mim mesmo e descubro, desvendo em cada nova pessoa, algo novo na minha pessoa, um sentimento que ainda não havia me ocorrido, uma sensação que eu não havia percebido. Persistem questionamentos que roubam minhas horas e, se roubam minhas horas, é porque existe ainda muito mais o que procurar e o que perfurar. Então, martelo e, quando estou muito cansado, me jogo em mim mesmo e posso chorar ou tomar qualquer coisa que não me tire dessa loucura a qual me insiro, ao contrário, quero entrar-me mais nela e sentir-me transbordando dessa nuvem que me cobre e que me fascina enquanto machuca, mas sei que preciso passar por isso para suportar o peso, a dor. Sei que se estou encarando a realidade é porque de alguma forma esse sofrimento me faz bem, ele prova que eu não me conheço e não conheço nada e não desisto de tentar entender, embora tenha muitas vezes que sorrio de mim mesmo sem saber os motivos.
Então, meu corpo cansado, só tem uma solução necessária, que é cair na cama e dormir; dormir e se puder até sonhar, ou então, despertar no dia seguinte pronto para encarar uma vida aparentemente normal, antes que o tormento advindo de qualquer coisa seja despertado e o jogo diário recomece. É quando eu olho para mim e para todos que estão ao meu redor e traço as linhas de nossos destinos, de nossas vidas. Esses acasos inúteis esgotam nossos momentos, mas precisamos, necessitamos dos acasos, pois só eles são capazes de nos segurar em pé neste aglomerado no qual estamos inseridos. É preciso que todos estejam a mercê deste destino que diz que tudo pode acontecer, não, não é destino, é acaso, mas mesmo que seja destino, na minha crença, ainda assim desconheço o desfecho da historia e na expectativa de me deparar com algo maravilhoso e imaginado por mim, percorro os trilhos dos dias e noites e rostos diferentes, que surgem a cada curva a minha frente. Eu gosto e mesmo parecendo cansado da mesmice, por ter um odor reconhecível que me garante não haver modificações, ainda assim, insisto em acreditar que pode ser desta vez que o enigma vai se quebrar. Mas têm dias que não acredito, não quero pensar em acreditar, e digo em voz alta que é tudo mentira e que tudo não passa de minhas intenções, que no fundo eu já descobri o verdadeiro novelo. Mas há outros dias que desminto tudo que descobri, pois preciso de força para caminhar e assim, enfrento os meus monstros dentro da solidão das pessoas e principalmente dentro da minha pessoa.
Leio um livro, vejo um filme e noto como o final poderia ser diferente e como eu poderia direcionar aquela historia da minha maneira, mas não adianta, pois o fim já foi traçado, não adiante lamentar a morte da mulher no trânsito, não tem mais como conter aquele terremoto que destruiu a cidade inteira e matou milhões de pessoas, pois já acabou, é tudo um passado remoto e só restam destruições e lamentações e eu não quero me lamentar, então percorro mais uma rua, mais um dia, mais uma hora, mais uma pessoa que me sorrir prometendo sei lá o “que”, e esse “que”, nos movem e me faz embarcar em mais uma viagem, nessa obscura travessia...
Obs: Publicado no livro "A Metamorfose Humana" de Valdon Nez.