Dúvida

Enquanto escutava em silêncio, um fio quilométrico de suspeita aderiu-se de uma ponta à outra naquele enredo.

Não havia lógica que desse consistência aos fatos apresentados e isso ia ficando cada vez mais óbvio.

Apertou, então, os lábios e pôs-se à observar o rosto à sua frente enquanto procurava nos olhos, cuidadosamente, qualquer indício que denunciasse a s verdadeiras intenções por trás daquele assunto . Não havia nada ali, assim como também não havia explícita qualquer expressão que servisse de fonte reveladora.

Foi tomada por uma sensação de desconforto e isso era um péssimo sinal. Não estava gostando nada daquilo.

Rapidamente decidiu-se: Não queria saber.

Não era seu problema. Não era sua vida.

Não queria transformar aquela história em parte de sua história, o que fatalmente ia acontecer à partir do momento em que se pronunciasse.

Às vezes, manifestar uma opinião pode ser muito mais danoso do que apenas reconhecer as próprias incertezas.

Permaneceu em silêncio.

- Não vai dizer nada?

- Estou muito atrasada – respondeu simplesmente.

- Nossa! Às vezes é difícil tentar conversar com você sabia?

Respirou fundo e em vez de responder, deu de ombros e seguiu sem olhar para trás.

Que perda de tempo! Concluiu enquanto se afastava.

Por fim desembaraçada, sentiu-se novamente livre para fazer o que realmente importava.

Cuidar da própria vida.